A literatura russa me chamou muita atenção e despertou o meu interesse principalmente por trabalhar de forma muito profunda o lado psicológico de seus personagens, o que gosto bastante. Em "O Idiota", de Dostoiévski, conhecemos um personagem chamado Hipollit. Um tísico em péssimo estado de saúde, com a doença já bem avançada e que recebeu dos médicos a notícia de que só lhe restam algumas poucas semanas de vida. Condenado a morte, esse personagem assume um pensamento niilista e está sempre entrando em profundos devaneios, o que leva o leitor a reflexões. Num dos pontos mais altos e intensos do romance o personagem rege uma carta, da qual foi retirado o trecho abaixo:
"Uma vez subiu às montanhas em um claro dia de sol, e andou demoradamente com um pensamento angustiante que, todavia, de maneira nenhuma se materializou. Diante dele havia um céu brilhante, embaixo um lago, ao redor um horizonte claro a não acabar mais. Ficou muito tempo a olhar e atormentar-se. Agora recordava que havia estendido as mãos naquele azul-claro e sem fim e chorado. Atormentava-o o fato de que ele era totalmente estranho àquilo tudo. Que festim é esse, que grande e sempiterna festa é essa que não tem fim e que há muito o vem arrastando, sempre, desde a infância, e à qual ele não encontra meio de juntar-se. Toda manhã nasce esse mesmo sol claro; toda manhã há arco-íris na cachoeira; toda tarde a montanha nevada, a mais alta de lá, ao longe, nos confins do céu, arde em uma chama purpúrea; cada pequena mosca que zune ao seu lado na réstia quente do sol é uma participante de todo esse coro; conhece o seu lugar, gosta dele e é feliz; cada pé de relva cresce e é feliz! E tudo tem o seu caminho, e tudo conhece o seu caminho, sai cantando e chega cantando; só ele não sabe de nada, não compreende nada, nem as pessoas, nem os sons, é estranho a tudo e é um aborto."
"Uma vez subiu às montanhas em um claro dia de sol, e andou demoradamente com um pensamento angustiante que, todavia, de maneira nenhuma se materializou. Diante dele havia um céu brilhante, embaixo um lago, ao redor um horizonte claro a não acabar mais. Ficou muito tempo a olhar e atormentar-se. Agora recordava que havia estendido as mãos naquele azul-claro e sem fim e chorado. Atormentava-o o fato de que ele era totalmente estranho àquilo tudo. Que festim é esse, que grande e sempiterna festa é essa que não tem fim e que há muito o vem arrastando, sempre, desde a infância, e à qual ele não encontra meio de juntar-se. Toda manhã nasce esse mesmo sol claro; toda manhã há arco-íris na cachoeira; toda tarde a montanha nevada, a mais alta de lá, ao longe, nos confins do céu, arde em uma chama purpúrea; cada pequena mosca que zune ao seu lado na réstia quente do sol é uma participante de todo esse coro; conhece o seu lugar, gosta dele e é feliz; cada pé de relva cresce e é feliz! E tudo tem o seu caminho, e tudo conhece o seu caminho, sai cantando e chega cantando; só ele não sabe de nada, não compreende nada, nem as pessoas, nem os sons, é estranho a tudo e é um aborto."
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