RESENHA: O Homem Que Ri - Victor Hugo

Victor Hugo é um dos meus autores favoritos, isso é fato. "O Último dia de um Condenado à Morte", "Os Trabalhadores do Mar" e "Os Miseráveis" foram obras que proporcionaram leituras incríveis e que me marcaram, cada uma à sua maneira. E claro que "O Homem que Ri" não poderia ter sido diferente. Aqui vamos acompanhar a trajetória de Gwynplaine, o garoto órfão que é comprado pelos comprachicos, uma espécie de gangue que trafica crianças na Inglaterra do século XVII, e que por eles é mutilado e desfigurado tendo os dois lados da boca cortados, formando assim em sua face um eterno "sorriso". Com a mudança da coroa e, consequentemente, o enrijecimento das leis, os comprachicos passam a ser perseguidos e condenados à morte por seus crimes. Com medo, a gangue de Gwynplaine resolve deixar a Inglaterra, abandonando o garoto desfigurado à própria sorte.


A partir desse ponto vamos acompanhar o crescimento de Gwynplaine até a vida adulta e seu encontro com personagens marcantes, como a cega Dea, o velho Ursus e o lobo Homo. Aliás, a criação de personagens marcantes e cativantes é marca registrada de Victor Hugo. Gwynplaine traz muito de Jean Valjean, apesar de tudo que sofre durante a história e das tentações que enfrenta, ele se mantém fiel a seus princípios e fiel a seus amigos. Dea em alguns momentos faz lembrar Cosette, foi acolhida quando estava fragilizada e se tornou a "cola" que mantém o grupo unido. Ursus é um filósofo que ás vezes se faz de durão mas por dentro seu coração se derrete todo ao contemplar o amor e a luz que vêm dos mais jovens a sua volta. Homo, o lobo, forma uma bela dupla com Ursus. Como diz uma passagem do livro: Ursus tem mais de lobo do que Homo, e Homo tem mais de homem do que Ursus.


Victor Hugo também é conhecido pelas longas digressões presentes em suas obras, o que é muito criticado por parte de alguns leitores que não estão acostumados com o estilo do autor. Confesso que quando eu estava lendo "Os Miseráveis" essas digressões me incomodavam um pouco, eu queria saber o que ia acontecer com os personagens no capítulo seguinte e era surpreendido por um longo capítulo que contava a história dos esgotos de Paris ou falava das táticas de guerra de Napoleão. Mas depois de concluída a leitura eu percebi o quanto essas digressões foram importantes para a ambientação e o enriquecimento da história. Victor Hugo trabalha muito o contexto histórico e político em suas obras, o que pode tornar a leitura um pouco mais lenta, porém mais rica. Em "O Homem que Ri", por exemplo, vamos ter muitas digressões sobre aristocracia inglesa da virada do século XVII para o XVIII. O autor em nenhum momento vai se intimidar de fazer uma pausa na narrativa da história para filosofar sobre o gênero humano ou tecer críticas a sociedade da época. Críticas essas que, infelizmente, permanecem atuais na nossa sociedade em inúmeros pontos. Talvez por isso essas digressões sejam tão importantes e não devem ser negligenciadas, principalmente nos tempos de hoje que têm sido tão obscuros. Victor Hugo permanece atual.

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