RESENHA: Os Leões de Bagdá - Brian K. Vaughan


Inspirando-se em um acontecimento real, o roteirista Brian K. Vauhghan e o desenhista Niko Henrichon recorrem aos mesmos moldes de "A Revolução dos Bichos" e "Maus" para narrar esse triste episódio, no qual quatro leões escapam do zoológico de Bagdá após um bombardeio americano. Escrita em forma de fábula, vamos acompanhar a história desses animais enquanto caminham pelas ruas de uma cidade em ruínas.


"Os Leões de Bagdá" é uma leitura rápida mas profunda e que infelizmente permanece atual. Assim como George Orwell fez em "A Revolução dos Bichos", Brian K. Vaughan vai usar os animais e suas personalidades para representar diferentes classes da sociedade iraquiana dentro da ditadura de Saddam Hussein, regime que é representado aqui pelo próprio zoológico que garante um mínimo de conforto e alimento aos animais em troca de sua liberdade.


O leão Zill é o conformista e representa a parcela do povo que, apesar de sentir falta de como a vida era antes, de certa forma se sente satisfeito e acomodado com o pouco que recebe hoje e acredita que seja o suficiente para sobreviver.
A jovem leoa Noor é a questionadora e representa os jovens reformistas que não concordam com a forma como vivem e lutam pela democracia. Está sempre conversando com os outros animais e tentando convencê-los a trabalhar em equipe para escapar.
A anciã Safa é a mais velha do grupo, teve uma vida muito dura quando era livre e acumulou muitas cicatrizes, por conta disso é o membro mais resistente a deixar o zoológico. Representa o grupo que é a favor da ditadura e acredita que a vida agora é melhor do que quando era livre.
Fechando o bando protagonista de leões temos o filhote Ali. Ele nasceu em cativeiro e não conhece outra vida que não seja a que leva no zoológico. Representa todas as crianças inocentes que nasceram e cresceram dentro do regime de Saddam, não fazem ideia de como a vida era antigamente e não entendem porque seu país está sendo atacado pelos americanos.
Além dos quatro leões principais, no decorrer da história também vamos conhecer outros animais que represem outras classes da sociedade, como o urso Fajer que é a personificação dos terroristas que apoiam Saddam e usam da violência extrema para manter o poder.


Como se não bastasse todo o teor político e as reflexões que a obra traz, principalmente em seu desfecho que é o momento mais impactante da história, tudo isso ainda é amplificado pela bela arte e cores de Niko Henrichon. Os animais, as paisagens e as cenas de guerra, tudo muito bem desenhado e retratado de maneira excepcional. A paleta de cores se encaixa perfeitamente com o roteiro e o resultado final é uma arte que salta aos olhos. "Os Leões de Bagdá" é uma obra atual e de suma importância que faz a gente refletir sobre a Guerra do Iraque através dos olhos do povo iraquiano e não do americano como geralmente é retratada. Leitura muito conveniente para os dias de hoje, infelizmente, visto que mais uma vez os EUA enviam tropas para o Oriente Médio.

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