RESENHA: Os Demônios - Fiódor Dostoiévski

      "Os Demônios" talvez seja o romance mais político de Dostoiévski. A obra foi inspirada em um fato ocorrido na Rússia do século XIX, mais precisamente no ano de 1869: o assassinato do estudante I. I. Ivanov pelas mãos do grupo niilista liderado por S. G. Nietcháiev. Esse acontecimento chocou e gerou reflexões tão profundas no autor que, mesmo estando envolvido na construção de outras obras, se sentiu obrigado a fazer uma pausa para escrever sobre o episódio.


      Apesar de ser inspirado em um acontecimento real, Dostoiévski cria seus próprios personagens para representar as pessoas reais envolvidas e assim compor sua ficção baseada em fatos. Muito criticado na época de sua publicação, "Os Demônios" se tornou muito mais do que um registro político, mas também histórico, social, filosófico e religioso. Além de retratar muito bem o que era a Rússia na época em que foi escrito (temos aqui um amplo mergulho do cenário psicológico do povo russo) o livro também foi profético ao explicar os princípios do "Chigaliovismo", um vislumbre do que viriam a ser as ideias adotadas por Stálin e Hitler. Ainda na atualidade, "Os Demônios" serve como um alerta do que pode acontecer quando política e ignorância se fundem resultando no fanatismo e quando mentes pequenas tentam alcançar o poder pelo poder a qualquer custo.


      Como é típico de Dostoiévski, o livro é denso e com uma grande gama de personagens. Foi uma leitura lenta porém não desprovida de prazer e de reflexões. O romance é um pouco truncado mas ao concluí-lo e perceber que aqui o principal personagem é o cenário político temos uma compreensão mais ampla da genialidade que o autor teve para construir essa obra atemporal. Com certeza fecho esse livro com a mente mais enriquecida e ciente de que os demônios da Rússia do século XIX infelizmente ainda assombram a nossa sociedade nos dias de hoje.

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