RESENHA: Sapiens: Uma Breve História da Humanidade - Yuval Noah Harari

      Desde o seu lançamento mundial em 2014, "Sapiens" passou a figurar na lista dos best-sellers em vários países e não foi diferente aqui no Brasil. Ainda hoje, mesmo alguns anos após o seu lançamento, é comum ver o livro entre os mais vendidos na lista de sites como PublishNews, por exemplo. Confesso que durante muito tempo o livro não me atraiu por dois motivos: primeiro por eu não ter o costume de ler livros de não ficção nos primeiros anos como leitor (o que já corrigi hoje em dia), segundo por eu ter desenvolvido uma certa resistência, e até preconceito eu confesso, em ler best-sellers que são indicados a todo momento. Mas depois de assistir e ler alguns trechos de palestras dadas pelo do autor eu comecei a ter interesse pelos assuntos que ele levantava e resolvi embarcar em um de seus livros para saber mais.


      Yuval Noah Harari nasceu em Israel e se tornou doutor em história especializado em história mundial, é professor e ficou mundialmente conhecido pelos seus cursos e palestras sobre a história da humanidade, assunto esse que é o tema principal desse livro. Em "Sapiens" o autor busca apresentar ao leitor, de forma abrangente e ao mesmo tempo simplificada como sugere o título, um resumo sobre a história da humanidade, desde o surgimento do homo sapiens na África até o desenvolvimento de armas nucleares e tecnologias ainda em desenvolvimento hoje. O livro pode ser lido sem problemas por leigos no assunto e claramente foi concebido com o objetivo de disseminar esse conhecimento para as grandes massas. Levando em conta que se tornou um best-seller, concluímos que o livro atingiu seu objetivo com sucesso.


      O livro se divide em quatro partes. Na primeira vamos acompanhar o surgimento dos primeiros humanos e como se deu seu desenvolvimento pelo continente africano, passando por capítulos sobre as primeiras ferramentas de pedra, a descoberta do fogo e o surgimento da linguagem ficcional. Vamos ver como os sapiens se espalharam para outros continentes levando consigo a destruição e extinção de megafaunas, como a australiana e a americana, já naquela época. Essa parte vai abordar um longo período da humanidade e apesar de não trazer nada de muito novo serve bem como introdução, faz lembrar muito o conteúdo dos livros de história que estudamos na época da escola.


      Na segunda parte, a que achei mais interessante, vamos saber como o homem começou aos poucos a adequar a natureza ao seu redor visando facilitar a sua sobrevivência: plantando sementes, domesticando animais e assentando os primeiros acampamentos permanentes. Esse período é nomeado de Revolução Agrícola. A partir dele grupos de humanos passaram a viver em um mesmo território, o que resultou na necessidade de alguma organização social. Surgiram então as primeiras cidades, sistemas de escrita e o conceito do dinheiro. Aqui o autor não se limita a apenas fornecer informações e também se propõe a levantar sérios questionamentos ao leitor.


      A parte três do livro vai tratar da unificação da humanidade e da globalização. O surgimento dos primeiros grandes impérios obrigou mais uma vez o homem a reprogramar sua forma de se organizar socialmente e politicamente, o conceito de dinheiro foi transformado em moeda e as religiões aos poucos foram de espalhando pelo globo passando a exercer um papel mais importante do que antes. Capítulos que discutem conceitos como dinheiro e religião são um bom exercício filosófico e social capaz de render horas de conversa com outro leitor.


      A Revolução Científica, que é abordada na quarta e última parte do livro, retrata o período em que pela primeira vez a humanidade admite sua ignorância e começa a se questionar sobre o que há além do horizonte dos oceanos ainda desconhecidos. Temos aqui alguns dos capítulos mais interessantes do livro. Vamos acompanhar o surgimento dos Estados europeus e a época das Grandes Navegações que resultou na conquista de novas regiões do globo terrestre até então desconhecidas. Período esse que deve muito a expedição do capitão inglês James Cook, grande navegador, explorador e cartógrafo, responsável pelo experimento com frutas cítricas que possibilitou o combate ao escorbuto e consequentemente facilitou a realização de longas viagens marítimas. O termo Revolução Científica nos remete a algo mais atual que acontece nos dias de hoje, mas essa revolução já teve início naquela época. Os Estados europeus foram os primeiros a enviar expedições a terras distantes não só com soldados, mas também com pesquisadores para que pudessem estudar a fauna, flora e cultura local. Outros capítulos abordam a ascensão do capitalismo, a Revolução Industrial e seus impactos em nossa sociedade e no ambiente ao redor. Mais uma vez o autor dos deixa cheios de reflexões sobre os caminhos tomados pela humanidade. Os capítulos finais nos dão um panorama geral dos anos mais recentes, aborda os problemas sociais e políticos que vivemos, a exploração desenfreada dos recursos naturais, a ameaça nuclear, os avanços tecnológicos e suas consequências e também dos deixa com um grande questionamento sobre o futuro da humanidade.


      "Sapiens" é um livro que aborda muitos temas diferentes, por isso alguns assuntos podem agradar mais e outros menos, mas no fim todos eles têm seu papel na construção da linha do tempo da história da humanidade. É uma leitura enriquecedora, mas que vai te deixar com mais perguntas do que respostas, o que eu acho excelente. O livro nos deixa com grande sede de conhecimento e é impossível lê-lo e não querer saber mais sobre história, política, sociologia, biologia e diversos outros assuntos. E é claro, não vou poder deixar de ler os outros livros do autor.

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