RESENHA: Led Zeppelin: Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra - Mick Wall

      Quando penso em Led Zeppelin a primeira coisa que me vem na cabeça é a memória do meu primeiro dia na aula de guitarra, quando meu professor perguntou do que eu gostava e eu respondi: rock. Então ele colocou o solo de "Stairway to Heaven" pra tocar e sem seguida empunhamos nossas guitarras para dar início as aulas a partir daquelas notas. E olha que na época eu ainda nem conhecia direito a banda, só superficialmente, mas logo entendi o que Jimmy Page significava para a guitarra. Quantas pessoas ele não deve ter influenciado a começar a tocar? Está tudo ali, o alicerce do qual diversos guitarristas iriam usar de base para seus trabalhos e levar a coisa adiante. Ali estava a raiz. Ok, antes tivemos os Beatles, os Stones e o The Who, mas o Led levou a coisa para outro nível. Não pior nem melhor, mas fez a coisa se mover e atingir o próximo estágio. Assim como foi uma influência para inúmeros guitarristas, Page também foi uma influência pra mim. Mas me faltava uma relação mais íntima com a banda e essa leitura me proporcionou exatamente isso. Mergulhar no mundo do Led foi uma experiência tão maravilhosa que me fez sentir motivado de novo para empunhar minha guitarra.


      Jornalista britânico especializado em música, Mick Wall já escreveu a biografia de grandes bandas como AC/DC, Black Sabbath, Metallica e Guns N' Roses. A biografia do Led Zeppelin é considerada um de seus melhores trabalhos e pude constatar isso durante a leitura. Em meio a entrevistas, matérias de revistas e jornais, testemunho de amigos e pessoas ligadas a banda, o autor fez aqui um árduo trabalho de pesquisa e o resultado, como não poderia ser diferente, é um material muito bem organizado e de primeiríssima qualidade.

(Mick Wall)

      Não sei bem como fazer a resenha de uma biografia. Resumir a história contada aqui seria um pecado e eu falharia miseravelmente. O que posso dizer é que acompanhar e entender a trajetória da banda, desde sua ascensão meteórica até a sua queda mais meteórica ainda, isso tudo separado por um breve período de apenas doze anos, é assustador e lindo ao mesmo tempo. A banda que nasceu dos cacos dos Yardbirds e foi erguida pelo músico frustado de estúdio, Jimmy Page. E pensar que ninguém queria entrar para o grupo, pois todos viam o projeto como uma barca furada! Mas um dia aquele projeto decolou... Nas mãos do lendário empresário Peter Grant, que revolucionou a forma de gerir uma banda e fazer dinheiro com ela, O Led, com sua mistura de blues e rock, conquistou o mundo. A banda que sempre esteve em pé de guerra com a crítica e que nunca lançou um álbum igual ao anterior, alcançou um estrelato nunca antes visto no mundo do rock. Atingiu seu ápice musical ao transcender o gênero e provar que podia se mover dentro do campo musical passeando tranquilamente entre outros estilos. Com influências celtas, indianas e asiáticas, o Led construiu seu próprio estilo musical ao mesclar rock, blues, folk, funk, progressivo e soul. Suas turnês se tornaram lendárias, tocaram em arenas gigantescas onde chegaram a se apresentar por quatro ou cinco horas. Os excessos fora do palco foram ficando cada vez mais fora de controle e logo cobrariam seu preço.

(Led Zeppelin em uma apresentação ao vivo)

      A banda nunca mais foi a mesma depois do acidente automobilístico sofrido pelo vocalista Robert Plant, em 1975. Depois ele perdeu seu filho, que morreu aos cinco anos de idade. Logo em seguida a banda perdeu o baterista John Bonham, morto após se engasgar com o próprio vômito enquanto dormia. Com Plant inconsolável, Page se afundando na heroína, Bonham morto e Jones cada vez mais afastado, a banda teve seu fim oficialmente decretado em 1980. Incrível olhar pra trás agora e pensar que em apenas doze anos a banda tenha alcançado tamanha evolução musical e sofrido uma queda tão brusca. Mesmo que tenha acontecido algumas reuniões pontuais posteriormente, nada nunca foi como era antes, quando os gigantes caminhavam sobre a Terra... Mas seu legado permanece vivo e assim permanecerá durante muito tempo. Pelo menos enquanto houver alguém tentando empunhar desengonçadamente uma guitarra no seu primeiro dia de aula, e quando o professor perguntar: "do que gosta?", ele responder: "rock."

(Jimmy Page executando seu lendário número com o arco de violino)

Comentários