RESENHA: O Fantasma da Ópera - Gaston Leroux

      Clássico da literatura mundial que transcendeu seu gênero e se estendeu para o cinema, o teatro e a música, "O Fantasma da Ópera" de Gaston Leroux foi publicado pela primeira vez em formato de folhetim na França em 1909 e se tornou um marco cultural e artístico que permanece vivo até hoje em diversas mídias. Sua primeira adaptação cinematográfica aconteceu em 1925 e desde então muitas outras foram feitas, sendo a mais famosa delas o filme de 2004 dirigido por Joel Schumacher e que foi indicado a três categorias no Oscar do ano seguinte. Em 1980 estreou como balé na Ópera de Paris. Em 1986 fez sua estreia na Broadway, onde viria a se tornar o maior musical de todos os tempos, permanecendo em cartaz até os dias de hoje. Na música, diversos artistas tiveram composições baseadas no romance, entre eles as bandas Iron Maiden e Nightwish. Suas várias adaptações em diversos formatos alcançaram tanto sucesso que a obra original muitas vezes acaba sendo ofuscada. Quase todo mundo já ouviu falar do Fantasma da Ópera mas não são muitos os que leram o livro.


      "Em que acreditar, em que não acreditar nesse conto de fadas? Onde termina o real, onde começa o fantástico? O que ela viu? O que imaginou ver? - acrescentou, fremente: - E eu mesmo, o que vi? Vi realmente os olhos incandescentes ainda há pouco? Ou eles só reluziram em minha imaginação? Eis que já não tenho mais certeza de nada! E não juraria nada quanto a esses olhos."

      Esse pequeno trecho retirado do livro descreve bem o que é o Fantasma da Ópera. Uma história que mescla fatos históricos e elementos fantásticos, sendo os dois separados por uma linha muito tênue. Fato é que no fim do século XIX coisas estranhas aconteceram na Ópera de Paris. Mas onde termina o real e começa o fantástico? Essa pergunta sem resposta ajuda a construir e a manter vivo o mito do Fantasma da Ópera.
      Na história aqui contada vamos acompanhar o dia a dia dos artistas, diretores, funcionários e frequentadores da glamourosa Ópera de Paris. Mas outro habitante muito misterioso reside ali, ele é conhecido como o Fantasma da Ópera. Sempre que ocorre algum acidente ou algum objeto é perdido, ou melhor dizendo, sempre que algo de ruim acontece dentro da Ópera, é imediatamente atribuído ao Fantasma. A Ópera está passando por uma mudança de direção, os ex-diretores alertam a nova diretoria sobre a existência do misterioso inquilino e revelam uma espécie de contrato assinado no qual o Fantasma impõe algumas exigências aos administradores do local. Os novos diretores não levam a história a sério e, acreditando que tudo não passa de uma brincadeira de mau gosto, decidem ignorar as exigências impostas no contrato. O que eles não sabem é que fazendo isso estão colocando em risco a vida de diversas pessoas que frequentam e trabalham na Ópera. Uma dessas pessoas é a cantora Christine Daaé, que começa a desenvolver uma paixão pelo Fantasma ao se deixar seduzir pela voz do misterioso vulto que vive nas sombras e nunca mostra seu rosto. Logo ela vê seu coração dividido entre o Fantasma e o visconde de Chagny, um amigo de infância pelo qual sustenta um amor platônico. A trama vai girar em torno desse trio mas não espere muito romantismo, a obra é recheada de suspense e mistério envoltos em uma atmosfera gótica com narrativa policial.


      E por falar na atmosfera do livro, não posso deixar de dedicar aqui algumas palavras sobre a sua ambientação. Fundada em 1669 como Academia Nacional de Música, a Ópera da Paris ainda hoje recebe espetáculos de teatro, música e dança. Durante a leitura o autor consegue nos transportar para dentro dessa magnífica obra de arte e nos da muitos detalhes da estrutura. Vale destacar aqui também a bela edição que a editora Zahar nos entrega, recheada de notas de rodapé assinadas por André Telles e que nos permitem uma imersão muito mais profunda na riqueza histórica, cultural e artística que a obra traz. Essas notas fazem toda a diferença uma vez que o livro traz inúmeras citações de obras e artistas, fatos e personagens históricos, e detalhes do mundo do teatro que só quem atua no ramo seria capaz de entender.

(Ópera de Paris)

      "O Fantasma da Ópera", além de uma verdadeira aula de história e cultura da França do século XIX, é uma obra atemporal pois trata de temas universais como o amor, o desejo e as consequências de nossos atos. O Fantasma é um personagem que brinca muito com os sentimentos do leitor, ora despertando repulsa, ora piedade. Assim como os outros personagens da história ficam intrigados com ele, nós também ficamos. Gaston Leroux conseguiu envolvê-lo em uma névoa de mistério de tal forma que mesmo quando o personagem se faz ausente nós ficamos nos perguntando se ele não está à espreita e essa atmosfera de suspense é onipresente durante quase toda a leitura. Com certeza o Fantasma da Ópera é um dos personagens mais bem construídos e emblemáticos de toda a literatura, não à toa possui uma imagem impactante que é muito mais explorada nas suas inúmeras adaptações do que na obra original. A genialidade do livro está justamente na ausência física do personagem e na iminência da sua aparição, portanto, acredito que ler "O Fantasma da Ópera" irá proporcionar uma nova experiência mesmo ao leitor que já tenha tido contato com a obra em uma de suas inúmeras adaptações.


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