RESENHA: Grandes Esperanças - Charles Dickens

      "Grandes Esperanças" é um grande clássico da literatura inglesa do século XIX. Publicado em formato de fascículos no jornal "All the Year Round" durante os anos de 1860 e 1861, os desdobramentos da história tinham influência da reação do público e do número de vendas do periódico entre os capítulos. Formato que faz lembrar o das novelas que existem hoje em dia. Quando escreveu "Grandes Esperanças", Dickens já era um autor renomado pois havia publicado anteriormente grandes obras como: "Oliver Twist", "Um Conto de Natal", "David Copperfield", "Tempos Difíceis", "Um Conto de Duas Cidades", entre outras. Suas principais características literárias, que são a crítica social e a criação de personagens marcantes, estão a todo vapor nesse livro.
   

      Aqui vamos acompanhar a história de Philip Pirip, mais conhecido como Pip. Pip é um garotinho de sete anos, órfão, que é criado pela irmã mais velha e seu marido Joe, o ferreiro. Morando em um pequeno vilarejo, a família, de origem simples, leva uma vida que não chega a ser exatamente miserável mas bem próxima a isso. A comida não falta mas é pouca. Joe passa os dias trabalhando na ferraria para garantir um mínimo de sustento. A irmã mais velha é muito rigorosa com o irmãozinho. A vida de Pip é dura. Ainda assim, apesar das adversidades, o garoto é capaz de sorrir daquele modo que só as crianças sabem. Tudo começa a mudar quando Pip é chamado pela Srta. Havisham para visitar sua mansão. Manor House destoa totalmente do restante da vila. É uma propriedade enorme com sinais de abandono, muito sombria e cercada de mistérios. O jardim está descuidado, há uma cervejaria abandonada dentro de seus muros e todos os seus relógios estão parados exatamente no mesmo horário. Ao adentrar o quarto da Srta. Havisham, o mistério só aumenta. Ela não permite a entrada de luz, as cortinas estão permanentemente fechadas e o ambiente mal é iluminado por velas. Em um cômodo há um buffet completo de casamento coberto de insetos e teia de aranha. A srta. Havisham está sentada em uma cadeira com um vestido de noiva que parece que irá se desmanchar e qualquer momento e está coberto de pó. É nesse ambiente obscuro que Pip conhece Estelle, fonte de todas as suas ambições e aflições. Rejeitado pela garota, Pip começa a se sentir mal por ser quem é e pela sua origem humilde. E almeja então se tornar um cavalheiro para que seja digno do amor de Estelle. Sem grandes expectativas reais de alcançar o seu sonho, o que Pip não imaginava é que sua realização estava muito mais próxima do que ele esperava.


      Acompanhar a trajetória de Pip levanta muitas discussões, principalmente sobre as questões sociais. Sua ascendência pelos olhos da sociedade, e até pelos de si mesmo enganado por essa outra, não coincide com a iluminação de sua alma e nem com a conquista de sua felicidade. Ao conceber que sua felicidade está atrelada a sua posição social, Pip apenas engana a si mesmo. No fim, o que acontecera de bom em sua vida teve origem humilde. A nobreza pouco lhe trouxe além de alguns momentos de prazer ao preço da perturbação de seu espírito. É genial e ao mesmo tempo assustador pensar que uma crítica social presente em um livro do século XIX ainda se encaixe em nossa sociedade dois séculos depois. Cada vez mais as pessoas vivem de status e buscam a felicidade em bens materiais e posições sociais. Poucos buscam o desenvolvimento interior e a felicidade nas pequenas coisas. Será que os livros clássicos têm uma genialidade que sempre os fazem permanecer atuais? Ou é a sociedade que permanece estagnada, ou pior ainda, está regredindo?

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