RESENHA: O Bazar dos Sonhos Ruins - Stephen King

"Se eu dissesse que sempre gostei da disciplina rigorosa que as obras mais curtas de ficção impõem, estaria mentindo. Os contos exigem uma espécie de habilidade acrobática que precisa de muito treino exaustivo. A leitura fácil é produto de uma escrita dedicada, alguns professores dizem, e é verdade. Lapsos que podem passar despercebidos em um romance ficam gritantes em um conto. Uma disciplina rigorosa é necessária. O escritor preciso dominar seu impulso de seguir por caminhos alternativos fascinantes e permanecer na rota principal. Nunca sinto tanto as limitações do meu talento como quando estou escrevendo obras curtas de ficção. Luto contra sentimentos de inadequação, contra um medo que vem do fundo da alma de que não vou conseguir cobrir o vão entre uma ideia excelente e a realização do potencial dessa ideia..."


      O trecho acima foi retirado da introdução desse livro. Para Stephen King, que é um escritor detalhista e até acusado de ser prolixo em muitos de seus romances, não deve mesmo ser fácil escrever um conto. Tudo bem que alguns contos do mestre são longos mas não é o que acontece nesse livro, onde a maioria das histórias são curtas. "O Bazar dos Sonhos Ruins" é uma compilação de contos que King escreveu durante sua prolífica carreira. Alguns surgiram de projetos engavetados, outros já foram publicados anteriormente nos primórdios da carreira do autor mas foram retocados para essa edição, outros ainda foram escritos recentemente. Diferente de outros livros de contos autor, que têm uma temática específica ou que os contos possuem alguma relação entre si, aqui temos contos dos mais variados temas e estilos, inclusive um poema! No total "O Bazar dos Sonhos Ruins" é composto por vinte histórias, algumas boas e outras nem tanto. Por ser uma compilação tão abrangente o livro acaba soando irregular. Quando um conto empolga o seguinte não chega a decepcionar mas é muito abaixo do anterior. O livro não consegue encaixar uma boa sequência e a leitura acaba não ganhando o ritmo. Entre altos e baixos, alguns contos se destacam. Afinal é King! Mesmo quando não é brilhante, ainda assim é bom.


      "Milha 81" vai contar a história de um carro assassino, no estilo Christine, Apesar de um pouco previsível, o conto inicia bem o livro. "A Duna" é uma história bem curta, mas uma das minhas favoritas. Vai falar sobre uma misteriosa duna de areia localizada em uma ilha deserta capaz de fazer profecias de morte. "Garotinho Malvado" conta a história de um criminoso que foi condenado à morte por assassinar uma criança, só que a vítima não era uma criança qualquer. "Moralidade" é sobre um casal que aceita cometer um pecado em troca de dinheiro e acaba se afundando cada vez mais em degradação. "Ur" é o conto mais hilário do livro, após fazer a compra de um Kindle na Amazon um homem descobre que o aparelho é capaz de acessar universos paralelos e fazer previsões sobre o futuro. "Obituários" encerra a lista de destaques, nesse conto um colunista de um site de fofocas descobre que seus obituários têm um poder muito maior do que ele imagina.
      Esses foram alguns dos contos que mais gostei e que acho que merecem destaque. "O Bazar dos Sonhos Ruins" está longe de ser um dos melhores livros do autor, mas tem seus pontos positivos. Acredito que seja uma ótima porta de entrada para quem deseja conhecer Stephen King, pois abrange diferentes temáticas e estilos que ele adotou ao longo de sua carreira. Fazendo essa leitura, o leitor de primeira viagem poderá ver o que mais lhe agrada e ir atrás dos romances de seu interesse.

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