RESENHA: 20 Mil Léguas Submarinas - Jules Verne

      Publicado em formato de folhetim no periódico francês Magasin d'Éducation, entre os anos de 1869 e 1870, "20 Mil Léguas Submarinas" foi o sexto volume a compor a série Viagens Extraordinárias e se tornou uma das mais aclamadas obras de ficção-científica do século XIX, apontada por muitos como a Magnum Opus do renomado escritor francês e precursor da ficção científica Jules Verne. Após levar seus leitores a viagens fantásticas pelo ar, pelo espaço e pelas entranhas da Terra em trabalhos anteriores, Verne ainda tinha um cenário a explorar. O próximo destino seria então o fundo do mar.

      No ano de 1866, um mistério assombrava os mares de todo o mundo. Navios de todo o globo relatavam o avistamento de "uma coisa enorme no mar, um objeto comprido, fusiforme, fosforescente em determinadas circunstâncias, infinitamente maior e mais veloz que uma baleia". De todo canto surgiam os mais variados boatos, entre o povo não se falava em outra coisa e até o campo científico se viu em meio a discussões acaloradas. A situação se agravou quando as primeiras embarcações começaram a aparecer danificadas. Seria o estranho objeto uma criatura colossal recém despertada das profundezas? Um monstro mitológico como o Kraken ou a baleia branca Moby Dick? Um gigantesco animal marinho de dimensões nunca antes vistas? Em uma tentativa de desvendar o mistério e cessar os prejuízos causados pela criatura, uma expedição é organizada. A fragata norte-americana Abraham Lincoln é equipada como um verdadeiro navio de guerra e, sob o comando do capitão Farragut, parte de Nova York à caça da misteriosa criatura marinha. Entre os membros da tripulação temos o professor francês Aronnax, seu criado Conselho e o arpoador canadense Ned Land. O que esses três personagens não imaginavam é que essa expedição acabaria os levando a bordo do Náutilus e ao encontro do enigmático capitão Nemo.

      Jules Verne é conhecido por vislumbrar o lado mais sombrio dos avanços científicos e em "20 Mil Léguas Submarinas" a coisa não é diferente. Temos aqui um constante duelo entre conhecimento e liberdade. A "estadia" no Náutilus é vista como uma oportunidade única de exploração científica pelo professor Aronnax e seu criado, mas uma prisão para o espírito livre que é Ned Land. Esse embate será posto à prova enquanto percorremos os mares de todo o mundo e irá nos proporcionar momentos de reflexão e algumas pitadas de humor. E o que dizer do capitão Nemo? O homem que rompeu com a civilização e que entrou direto para a minha lista de personagens favoritos de toda a literatura! Louco ou excêntrico? O que posso dizer é que mesmo após concluída a leitura o capitão continua um enigma.

      Personagens bem construídos já são meio caminho andado para que uma história seja boa, mas Verne não se limita a isso. Como uma boa ficção científica, "20 Mil Léguas Submarinas" tem sua cota de avanços tecnológicos à bordo do Náutilos, além de digressões sobre a fauna e a flora marinha e inúmeras referências a historiadores, naturalistas, biólogos, geólogos e exploradores reais. Fatos históricos também são citados e até usados como pano de fundo em algumas passagens da narrativa. Elementos de aventura, muito presentes em outras obras do autor, também marcam presença aqui embora acompanhados de um tom mais sombrio. O livro também possui um teor político, mas que acabou sendo suavizado pelo editor do periódico responsável pelas publicações.

      "20 Mil Léguas Submarinas" é uma história de vingança e de mistério. Uma aventura e uma ficção científica. E no meio disso tudo, Verne ainda encontrou espaço para encaixar algo de político. Soma-se tudo isso a personagens marcantes e o resultado é um clássico que permanece atual mesmo 150 anos após sua publicação. Quanto a edição da Zahar, dispensa comentários. Em formato capa dura, o livro conta com mais de 70 ilustrações, tradução primorosa de André Telles (direta do francês) e inúmeras notas de rodapé que foram fundamentais para melhor entendimento e absorção da leitura. Essa edição também inclui um belo prefácio escrito por Rodrigo Lacerda, um glossário de termos náuticos e a cronologia: vida e obra de Jules Verne. São detalhes que fizeram toda a diferença para que a minha experiência de leitura fosse a mais completa completa e prazerosa.

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