RESENHA: Os Mitos de Cthulhu - Esteban Maroto

      Adaptar Lovecraft não é uma tarefa fácil. Seus contos, muitas vezes inspirados em pesadelos, retratam entidades monstruosas indescritíveis e de nomes impronunciáveis, a insignificância da existência humana perante os segredos do universo e o terror subjetivo, aquele que está ligado diretamente a imaginação do leitor. Traduzir todos esses elementos em imagens é para poucos e o espanhol Esteban Maroto fez sua tentativa.


      A ideia surgiu em 1982, quando a editora espanhola Bruguera lançou um projeto de adaptar obras clássicas da literatura mundial para os quadrinhos. Esteban Maroto adaptou os três primeiros contos de Lovecraft que compõem os Mitos de Cthulhu, são eles: "A Cidade Sem Nome" (1921), "O Cerimonial" (1922) e "O Chamado de Cthulhu (1926). Infelizmente, o projeto acabou sendo abortado devido ao fim da editora e o quadrinista ficou sem a arte original que havia desenhado. Depois disso, o material acabou sendo publicado, aqui e ali, mas sempre de forma duvidosa. Até que em 2016, outra editora espanhola recuperou os originais e a obra foi lançada pela primeira vez, 34 anos depois, com o aval do artista. Três anos depois, a adaptação chegou finalmente ao Brasil pelas mãos do Pipoca & Nanquim e o capricho de praxe da editora: capa dura, papel de qualidade e material extra.


      Como dito acima, o terror do Lovecraft é muito peculiar e funciona com base na imaginação do leitor. Esse elemento, como era de se esperar, se perde um pouco na adaptação. A sensação que temos ao ler a HQ nem se compara ao desamparo que sentimos lendo os contos do autor. Por isso, um fã lovecraftiano pode sair decepcionado! Por outro lado, a arte em preto e branco de Esteban Maroto funciona muito bem em algumas partes. Interessante ver a versão dele da subterrânea cidade sem nome, o elemento feminino que ele incorpora em "O Cerimonial" e, é claro, sua interpretação das criaturas oníricas, entre elas o mítico Cthulhu. A narrativa não é feita através de balões e sim de textos, o que incomoda um pouco. Esteban Maroto adapta o texto de Lovecraft e, como resultado, ficamos com a sensação de que estamos lendo uma versão resumida e ilustrada dos contos.


      Acredito que, para quem já tenha lido os contos adaptados presentes nessa edição, vai ficar uma sensação de que falta algo. Para aqueles que nunca tiveram contato com a obra de Lovecraft, "Os Mitos de Cthulhu" vai funcionar melhor. Impossível ler essa adaptação e não se interessar pelos contos originais, o que faz dessa HQ uma excelente porta de entrada para o mundo cósmico do autor. E para os lovecraftianos, assim como eu, a obra é uma bela peça de coleção e um interessante exercício de interpretação que une dois mestres: um da literatura e outro dos quadrinhos.

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