RESENHA: Aldous Huxley - Contos Escolhidos

      Quando jovem, Aldous Huxley viu seus estudos no campo da medicina ameaçados pelos graves problemas de visão que o acometeram. Apesar da doença, ele conseguiu terminar o curso. Mas, considerado inapto para o serviço militar, não pôde defender o seu país na Primeira Guerra Mundial. O fato de ficar de fora da Grande Guerra foi fundamental para o desenvolvimento de seu estilo literário. Vendo a guerra de longe, Huxley aprimorou o seu senso político, social e artístico. No período do pós-guerra e da Grande Depressão, o autor publicou diversos contos, novelas, ensaios e romances, entre eles o clássico "Admirável Mundo Novo". Em 1957, e mais uma guerra depois, Huxley reuniu seus melhores contos em um único volume e foi assim que surgiu "Contos Escolhidos".

      Essa coletânea reúne 21 contos com temáticas bem variadas, mas que têm em comum duas coisas intrínsecas a escrita do autor: o típico humor britânico e a crítica sociocultural. Alguns contos beiram a comédia: Huxley trabalha muito bem os diálogos e muitas vezes suas críticas ficam nas entrelinhas da conversa entre as personagens, e de uma forma muito sutil. Já em outros contos, ele é mais direto e ácido, deixando claro o ponto onde toca na ferida. O que é a cultura e qual o seu papel perante a sociedade? Essa é uma questão que o autor vai levantar em vários momentos durante a leitura. Crítica a elite britânica, a arte como escapismo, a estagnação social, a futilidade da nobreza, o papel social, o conflito de classes e de gerações... Esses são alguns dos temas que Huxley explora e nos convida a refletir sobre. Os contos, em sua maioria, são curtos e fluidos, mas repletos de significados e do tipo que se leva mais tempo para pensar do que ler. Apesar de suas críticas serem direcionadas a sociedade britânica do início do século XX, é assustador perceber o quanto as mesmas se encaixam perfeitamente na nossa sociedade de hoje e como os contos permanecem atuais. Isso faz de "Contos Escolhidos" uma leitura propícia, e eu diria até necessária, para o momento que estamos vivendo: um mundo de aparências e de desvalorização da cultura, onde somos constantemente forjados para nos encaixarmos em um molde social.


"A cultura deve sempre criticar a si mesma,
se não quiser ser reduzida a mera conversa de salão"

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