RESENHA: Bruce Springsteen - Born to Run

       Como grande amante da música, é claro que eu já conhecia a obra de Bruce Springsteen. Ou, pelo menos, imaginava que conhecia. Já havia escutado seus principais álbuns e uma ou outra música "lado b". Da sua história pessoal, eu pouco sabia. A vontade de me aprofundar e de preencher essa lacuna foi o que me levou a mergulhar na autobiografia do "Boss".

      Aqui vamos acompanhar a história de Bruce desde a sua infância em Freehold, Nova Jersey. Essa fase de sua vida ficou marcada pelo catolicismo. Nascido em uma família com forte raízes católicas, Bruce frequentou escolas com rigorosas regras religiosas. Isso ajudou a formar a personalidade, para o bem e para o mal. Criado praticamente pelos avós, que viam nele uma segunda chance de cuidar de um filho que haviam perdido em tempos passados, Bruce desenvolveu um relacionamento difícil com pai. Os problemas familiares acarretariam traumas que viriam a refletir em toda a sua vida, tanto pessoal quanto artisticamente, uma vez que esse é um tema recorrente em suas letras. 

      Depois de Elvis e os Beatles, Bruce teve sua aproximação definitiva com a música. Foi quando entrou para os Castiles, banda local de NJ, e passou a frequentar o circuito de clubes, bares, restaurantes e pizzarias da região, tocando na noite. Bruce viu o recrutamento para a Guerra do Vietnã ameaçar sua carreira musical, mas se safou fingindo ser intelectualmente incapaz durante a avaliação. "Fugir da guerra" foi um ato que levou Bruce a desenvolver o senso crítico e político que mais tarde viria a se tornar tão intrínseco a sua música.

      A ida a Califórnia, o contato com a cultura hippie e os primórdios da E Street Band, são alguns dos episódios que vamos visitar até o lançamento de seu primeiro álbum, em 1973: "Greetings from Asbury Park". A partir desse ponto vamos acompanhar a concepção e o processo de gravação por trás de cada álbum e os bastidores das respectivas turnês. Vamos ver como Bruce Springsteen & the E Street Band cresceram passo a passo, ultrapassaram as fronteiras de seu país e se politizaram ao entrar em contato com as questões sociais pelo mundo. Em 1984, com o lançamento do clássico "Born in the USA", eles já tocavam em grandes estádios e figuravam como uma das principais forças artísticas do mundo da música. Mas não se engane, o sucesso pode ter vindo com uma sonoridade mais pop mas não com o abrandamento das questões sociais, que estavam mais presentes do que nunca no trabalho da banda. A Guerra do Vietnã, o racismo e combate à fome e à pobreza, esses eram alguns dos elementos que acompanhavam Bruce Springsteen & the E Street Band no seu auge, durante os anos 80.

      A vida pessoal e artística de Bruce Springsteen sempre estiveram muito conectadas. Além de temas políticos e sociais, suas letras também traziam muito de seus sentimentos e eles não se limitavam somente a traumas familiares. Problemas de relacionamento, o isolamento na estrada, seu papel social e enquanto artista. Essas eram algumas das questões que costumavam encontrar escape em suas músicas, mas nem sempre funcionava... A luta contra a depressão, que é travada até hoje, é assunto tratado no livro. Bem como as questões de paternidade e casamento. Essa é uma faceta do artista que eu não conhecia e foi, sem dúvida, umas das partes mais interessantes e tocantes da leitura.

      Aos 71 anos, Bruce Springsteen já vendeu mais de 120 milhões de discos pelo mundo, ganhou diversas premiações, entre elas o Grammy, o Oscar, o AMA e o Kennedy, e foi introduzido no "Rock and Roll Hall of Fame". Apesar da fama, Bruce nunca esqueceu suas origens e se manteve empenhado na batalha contra a asfixia social durante toda sua carreira. Sempre atual, acontecimentos como os ataques de 11 de setembro de 2001, a Guerra do Iraque em 2003, a devastação que o furacão Katrina causou em New Orleans no ano de 2005 e a crise financeira de 2008, não passaram em branco diante de Bruce e refletiram em sua música. Incapaz de permanecer indiferente ao que acontece a seu redor, seja no seu bairro, nos anos 60, percebendo as questões raciais que começavam a florescer por ali, ou no mundo, hoje, mantendo os olhos abertos e atentos para o que está acontecendo agora, Bruce Springsteen, que durante toda a sua vida questionou qual seria seu papel como artista, encontrou a resposta em si mesmo.

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