RESENHA: Novembro de 63 - Stephen King

       No dia 22 de novembro de 1963, John F. Kennedy, o 35º presidente dos EUA, desfilava em carro aberto junto a sua esposa, Jaqueline, durante uma visita a cidade de Dallas, no Texas, quando foi atingido por dois disparos de arma de fogo. Kennedy não resistiu aos ferimentos e faleceu logo após o ataque. Lee Harvey Oswald, o suposto assassino, foi capturado e, dois dias depois, morto a tiros em frente às câmeras enquanto era transferido para o presídio local. A morte inesperada de Oswald deixou o assassinato de Kennedy envolto em névoas. Morto antes de confessar o crime, Oswald deixou sem respostas os investigadores que queriam saber como ele havia planejado o ataque e se teria agido sozinho. Várias teorias da conspiração surgiram e foi a partir delas que, em 1972, Stephen King tentou pela primeira vez escrever um romance inspirado nos acontecimentos. Mas a falta de recursos e o extenso trabalho de pesquisa que um romance baseado em fatos históricos envolveria, acabaram fazendo com que o autor adiasse o projeto. Quase quarenta anos depois, em 2011, a ideia finalmente saiu da gaveta e King entregou a seus leitores uma de suas obras mais ambiciosas: "Novembro de 63".

      Al Templeton é dono de uma lanchonete muito peculiar numa cidadezinha do Maine, sua despensa guarda uma espécie de portal do tempo. Quando o portal é cruzado, chega-se ao ano de 1958. Mas Al não viaja no tempo apenas para comprar carne mais barata para fazer o seu famoso "gordobúrguer", ele  tem um objetivo muito maior em mente: impedir o assassinato de John F. Kennedy. Só que ele não contava com a chegada de um inimigo tão traiçoeiro, o câncer. Para por seu plano em ação Al precisa "passar o bastão" e para isso ele recruta Jake Epping. Jake é um professor divorciado de meia idade que acha que já teve o bastante da vida, até que a redação de um de seus alunos o leva, indiretamente, a despensa da lanchonete de Al. Convencido de que pode impedir o assassinato de Kennedy e talvez, consequentemente, salvar Martin Luther King, abrandar os tumultos raciais, impedir a Guerra do Vietnã e assim salvar muitas vidas, Jake viaja para 1958 mas descobre que "o passado é obstinado, ele não quer ser mudado".

      Ficção histórica, romance policial, suspense, drama e ficção científica... "Novembro de 63" tem um pouco de tudo e King soube encaixar as peças muito bem. O contexto político e histórico retratado na obra envolveu um árduo trabalho de pesquisa, isso é explicado no posfácio e fica evidente na riqueza  de detalhes que a narrativa apresenta. Sem dúvida uma das melhores ambientações que já li do autor. O elemento científico  também merece destaque, o sistema de viagem temporal criado pelo King possui certas "regras" que deixam tudo bem mais interessante, saindo um pouco do lugar comum que é o tema de viagem temporal, já batido em muitas outras obras. "Novembro de 63" só peca um pouco no ritmo, é um livro lento até mesmo para o padrão King. Em alguns momentos a narrativa se torna enfadonha e o jeito é relaxar e curtir os anos 60, ou não, afinal o autor não aliviou e retratou todo o preconceito racial e o machismo que intoxicavam a sociedade americana daquela década. Pelo menos a música era boa!

      Por fim, assim como em "O Cemitério", King deixa o leitor reflexivo sobre perdas e como lidar com o passado. "Novembro de 63" pode ser lido como um simples passatempo ou como um exercício político, mas no fundo vai conseguir tocar o leitor de alguma forma em seu emocional. Afinal, perdas e arrependimentos são coisas que todo mundo já sofreu. Quem nunca desejou voltar no tempo para corrigir algo que fez ou deixou de fazer?

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