RESENHA: Fahrenheit 451 - Ray Bradbury

      Publicado pela primeira vez em 1953, no início da Guerra Fria, "Fahrenheit 451" é um romance distópico que retrata um futuro no qual não apenas os livros foram proibidos, mas qualquer forma de pensamento crítico foi sumariamente suprimida. Assustadoramente atual e tragicamente profética, a obra, vencedora do Prêmio Hugo em 1954, figura ao lado de "1984" (George Orwell), "Admirável Mundo Novo" (Aldous Huxley) e "Nós" (Yevgeny Zamyatin) como um dos pilares da literatura distópica. Aqui, Ray Bradbury nos coloca a par dos acontecimentos que cercam a vida do bombeiro Guy Montag. A profissão, que antes tinha a função de apagar incêndios, agora é a responsável por queimar livros. "Um livro é uma arma carregada na casa vizinha". Ligue, denuncie e deixe que os bombeiros façam o seu trabalho.

      "Fahrenheit 451" foi uma das primeiras distopias que li e essa releitura foi muito proveitosa para que eu pudesse perceber alguns pontos que passaram batidos em um primeiro contato com a obra. Diferente de outras distopias, aqui nós não temos longos trechos descritivos sobre como funcionam a sociedade e o governo atuais, todas essas informações estão nos excelentes diálogos entre os personagens e vão sendo "pescadas" conforme avançamos na leitura. Outro ponto que chama a atenção é o fato de que para chegar ao ponto de proibir os livros não foi preciso nenhuma medida drástica do governo, ele apenas se aproveitou do desinteresse das pessoas e as alimentou com informações inúteis e entretenimento barato, ou seja, o próprio povo escolheu não ler. A ignorância é cultuada, a arte foi banalizada, aqueles que pensam são vistos como aberrações e a sociedade pratica a autovigilância para que continue sendo assim (alguma semelhança com os dias de hoje?). E não para por aí! Bradbury profetizou ainda o que viria a se tornar a TV e as redes sociais quando inseriu aqui a ideia de que a família seria substituída por pessoas do outro lado da tela. Ele também acertou quando imaginou um futuro no qual as pessoas seriam dependentes de pílulas, a juventude se tornaria cada vez mais violenta e as taxas de suicídio cada vez mais elevadas.

      Essa é uma leitura tão intensa que corre-se o risco de passar por ela sem perceber que "Fahrenheit 451" é muito mais que um livro sobre queimar livros. Em diversas ocasiões, quando o livro foi alvo de censura, Bradbury defendeu a ideia de que sua obra havia sido incompreendida. Segundo ele, a crítica em "Fahrenheit 451" não é dirigida a governos totalitários, mas sim a povos que se deixam alienar e oprimir. Em uma passagem do livro o autor traça um paralelo entre e ave fênix e a humanidade: ambos morrem e renascem de tempos em tempos, mas a vantagem que nós temos é a de nos lembrarmos. Essa lembrança e esse conhecimento, devem ser conservados de forma intacta e passados para as futuras gerações para que não voltemos a cometer os mesmo erros do passado. Esse livro é um alerta e uma luz mais do que necessária para o momento obscuro pelo qual estamos passando atualmente. Indique-o a um amigo, dê de presente, incentive que outras pessoas façam essa leitura, pois precisamos abrir os olhos antes que seja tarde demais!

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