RESENHA: Eu Matei Adolf Hitler - Jason

      Em um mundo caótico, marcado pela banalização da violência, matadores de aluguel são profissionais tão comuns quanto médicos e advogados. O som alto do vizinho te incomoda? Seu chefe não quer te dar um aumento? Sua esposa ou seu marido o deixou? Quer adiantar o recebimento de uma herança? Basta agendar um horário e aguardar a sua vez na sala de espera do escritório de um matador profissional. Simples, rápido, prático e, melhor ainda, totalmente legal. É assim que as pessoas resolvem seus problemas em "Eu Matei Adolf Hitler", quadrinho trazido ao Brasil pela editora Mino, em 2019. Aqui vamos acompanhar a trajetória de um desses matadores de aluguel que um dia recebe em seu escritório a visita de um cientista. A missão? Matar Adolf Hitler. Como? Viajando em uma máquina do tempo. Em meio aos absurdos em que a sociedade vive, a missão é encarada com naturalidade e vista apenas como mais um trabalho comum para um matador. O que ninguém imaginava era que a tentativa de assassinato fosse acabar mal e que Hitler viajaria, nessa mesma máquina do tempo, direto do passado para o século XXI, enquanto o malsucedido assassino ficaria preso setenta anos no passado.


      Tentar matar Hitler não é nenhuma novidade a ser explorada em livros, quadrinhos, séries e filmes. Mas da forma como Jason fez aqui, a gente não vê todo dia. A começar pelo fato de que o quadrinho não é focado em Hitler e nem mesmo na política. Isso mesmo, o autor usa de um título e uma premissa sugestivos, mas leva a história para um lado totalmente diferente, e o melhor, sem decepcionar. "Eu Matei Adolf Hitler" é um quadrinho sobre tentar se manter humano em uma sociedade que já não o é. Aqui a violência é banalizada ao extremo. Pessoas são assassinadas à luz do dia e a todo instante, ver um assassinato na rua é tão comum quanto ver alguém fumando um cigarro. Pessoas caem mortas enquanto outras continuam tomando seu café, indo para o trabalho, conduzindo seus carros... e tudo é visto com a maior naturalidade. Os relacionamentos são vazios e as pessoas extremamente deprimidas. Afinal, algumas coisas não estão assim tão distantes da nossa realidade, não é mesmo? Estamos tão acostumados com a violência que não nos incomodamos, por exemplo, de almoçar acompanhados de um telejornal que é um verdadeiro cardápio funerário. Parece que, aos poucos, vamos perdendo a capacidade de nos chocarmos com as notícias que chegam até nós.

      Será que se voltássemos ao passado e matássemos Adolf Hitler o mundo seria melhor hoje? Ou será que, independente de Hitler (ou de qualquer outro demônio encarnado), a sociedade tem o dom de se deturpar sozinha? Essas são algumas das questões que ficam na nossa mente após a leitura desse quadrinho. Uma leitura rápida, intensa, mas com muita coisa nas entrelinhas. Um verdadeiro convite a reflexão. Após a conclusão, voltei em diversas partes para uma releitura e pude compreender muita coisa que havia passado batida. Sem dúvida há muito mais a absorver dessas 48 páginas e esse é um quadrinho que com certeza irei revisitar em um breve futuro.

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