RESENHA: O Enterro Prematuro - Edgar Allan Poe

(Arte de Harry Clarke)

      "Em determinado momento, acho que todo escritor de histórias de terror tem que lidar com o tema do enterro prematuro. No mínimo porque tal medo é muito difundido." Palavras do mestre Stephen King que provam o quanto Poe foi, e ainda é, influente. Publicado pela primeira vez em 1844, "O Enterro Prematuro" vai tratar de um medo muito comum no século XIX, quando muitas pessoas eram enterradas vivas. Aqui nós vamos acompanhar o dia a dia de um personagem que sofre de catalepsia, uma doença rara na qual o paciente passa por longos períodos de rigidez dos membros e diminuição dos sinais vitais, o que faz com que pareça estar, de fato, morto. Junte-se a isso um caso de tafofobia, o medo de ser enterrado vivo, e temos um neurótico de primeira classe.

      Com uma narrativa sufocante, esse é um conto que vai mexer com o psicológico do leitor e causar muito desconforto. Poe nos coloca na pele do cataléptico e, com o virar das páginas, nós vamos compartilhando de suas terríveis agonias. O tipo de leitura que a gente quer terminar logo, não por ser ruim, mas para se ver livre e voltar a respirar aliviado o quanto antes. O medo de ser enterrado vivo, apesar de característico daquele século, nunca saiu de cena e parece estar enraizado no âmago do psicológico humano. Hoje, o tema é exaustivamente explorado em séries, filmes, músicas e livros, mas naquela época, justamente quando o medo era mais palpável, Poe foi o primeiro a tocar direto na ferida. Dois séculos depois, "O Enterro Prematuro" ainda incomoda e seus leitores podem ser divididos em dois grupos: aqueles que já tinham medo de ser enterrados vivos e aqueles que passaram a ter medo após sua leitura.

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