RESENHA: O Escaravelho de Ouro - Edgar Allan Poe

(Arte de Léon Herpin)

      Em "O Escaravelho de Ouro", conto publicado pela primeira vez 1843, nós vamos conhecer o lado mais aventureiro de Poe. William Legrand é uma espécie de ermitão que vive em uma ilha isolada do continente, acompanhado apenas de seu fiel servo, Jupiter. Um dia, em uma de suas habituais expedições pela ilha, Legrand se depara com algo intrigante: um escaravelho de um dourado tão intenso que parece revestido em ouro. A descoberta do curioso espécime acaba se revelando apenas o primeiro de uma cadeia de acontecimentos que pode vir custar a sanidade do excêntrico personagem. Cada vez mais intrigado pelo enigma, Legrand parte em uma alucinada expedição atrás de respostas, arrastando em seu encalço Jupiter e o nosso narrador. Mas seria esse apenas mais um caso de loucura?

      Esse é um conto que incorpora muitos elementos da obra de Poe. Suspense, mistério, psicologia e até um viés mais detetivesco, como o que vimos em "Os Assassinatos na Rua Morgue", podem ser percebidos aqui. A forma como o autor amarra tudo, dando ares de aventura e humor a obra, é sublime e, embora não seja uma inspiração direta, precede o mestre Jules Verne. O trio de personagens (um misantropo, um submisso e um neutro), a narrativa com detalhes um pouco mais técnicos (descrição mais rica da fauna e flora local e maior precisão ao descrever distâncias e coordenadas), muita coisa remete a obras como "Viagem ao Centro da Terra" e "Vinte Mil Léguas Submarinas", clássicos do bom e velho Verne. Mais uma vez, Poe transcende a si mesmo e amplia seus horizontes, adicionando mais um belo prato ao seu vasto cardápio literário.

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