RESENHA: Filhos de Sangue e Outras Histórias - Octavia E. Butler

      Nascida em 1947, na cidade de Pasadena, California, Octavia Estelle Butler se tornou uma das mais célebres escritoras de ficção científica, vencedora dos prêmios máximos do gênero: o Hugo e o Nébula. Mulher, negra e pobre, Octavia venceu preconceitos, superou obstáculos e desbravou caminho em um meio que era completamente dominado por homens brancos. Sempre voltada para as questões sociais, temas como o racismo e o feminismo se tornaram marcas registradas em sua obra. A "Dama do sci-fi", como é conhecida, é constantemente lembrada por seus romances, dentre eles os aclamados "Kindred" e "A Parábola do Semeador", pouco se falava dos seus contos por aqui até que a editora Morro Branco, em 2020, trouxe para o Brasil a coletânea "Filhos de Sangue e Outras Histórias".

      Encabeçada pelo conto que dá título ao livro, essa coletânea foi publicada pela primeira vez em 1995 e contava originalmente com cinco contos escritos entre os anos 70 e 80, mais dois ensaios.  Posteriormente, dois outros contos escritos no início dos anos 2000 foram adicionados ao livro, totalizando sete contos e dois ensaios em sua edição final. Vida alienígena, epidemias, mundos pós-apocalípticos, biologia, política, religião, amor, drama e preconceito... São poucas páginas, mas é grande a lista de temas explorados aqui. Os contos são acompanhados de notas da autora, onde ela fala um pouco sobre a inspiração e o conceito por trás de cada um deles, bem como um apêndice com questões para discussão, o que enriquece bastante a leitura. Algumas histórias soam assustadoramente atuais, como é o caso de "Sons da Fala" e "Atalho". Outras são mais imaginativas, porém tão questionadoras e impactantes quanto.

      Apesar dos contos não estarem dispostos em ordem cronológica (único ponto negativo dessa edição), percebe-se claramente a evolução da escrita da autora ao longos dos anos. O material escrito nos anos 70 é quase que rudimentar perto dos mais recentes, nesses a escrita de Octavia está bem mais afiada. Quanto aos ensaios, um é autobiográfico e o outro uma carta aberta a qualquer pessoa que almeja a carreira de escritor, embora também possa ser aplicado em diversas outras áreas. Escrever foi a forma que Octavia encontrou de lidar com os problemas a sua volta. A infância batista, a origem humilde, o preconceito, o racismo, a dificuldades e os medos que enfrentou ao longo da vida, tudo isso reflete direto em sua obra, ora tocante, ora mais dura, mas sempre um convite a reflexão.

      Sempre digo que começar pelos contos é, pra mim, a melhor maneira de conhecer um novo autor. Experimentamos suas diferentes facetas e ficamos com aquela pulga atrás da orelha: o que o autor teria desenvolvido se tivesse mais espaço? Ou seja, o terreno é melhor preparado para partirmos para os romances. "Filhos de Sangue e Outras Histórias" foi uma excelente porta de entrada para o mundo de Octavia E. Butler e, com certeza, irei atrás de seus romances agora.

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