RESENHA: O Museu do Silêncio - Yoko Ogawa

      Seguindo com meu projeto de conhecer um pouco mais da literatura oriental, a escolha da vez foi a japonesa Yoko Ogawa. Nascida em 1962, na cidade de Okayama, a escritora descobriu nos livros infantis sua paixão pela literatura e tem "O Diário de Anne Frank" como sua maior referência de escrita como forma de autoexpressão. No Japão, é vencedora dos principais prêmios do meio literário, entre eles o Akutagawa, o Yomiuri, o Izumi Kyoka e o Tanizaki. Com dezenas de títulos traduzidos para outras línguas, Ogawa quebrou barreiras e caiu nas graças dos leitores norte-americanos e franceses, países onde é muito prestigiada. Sua obra chega ao Brasil pelas mãos da editora Estação Liberdade, que já publicou por aqui "O Museu do Silêncio", "A Fórmula Preferida do Professor" e, mais recentemente, "A Polícia da Memória". Mas é sobre esse primeiro que vamos conversar hoje.

      Publicado pela primeira vez em 2000, "O Museu do Silêncio" é um romance que trata do tempo e da morte, embora englobe muitos outros temas. Aqui nós vamos acompanhar um jovem museólogo que é contratado para projetar um museu nada convencional: uma exposição em memória dos mortos. Como se organizar, catalogar, conservar e coletar objetos de pessoas que já partiram não fosse estranho o suficiente, o protagonista ainda tem que lidar com sua contratante, uma velha hostil e egocêntrica, que parece disposta a tornar o trabalho mais difícil. Enquanto trabalha no bizarro acervo e projeta o Museu do Silêncio, nosso museólogo acaba se habituando a sua morada temporária e a seus habitantes: a velha, a menina, a criada e o jardineiro (nenhum dos personagens tem nome nesse romance). Mas a cortina de mistério que envolve o museu e tudo que o cerca está longe de se desfazer. Missionários do silêncio que abriram mão da fala, um misterioso manuscrito, um irmão que não responde cartas e estranhos assassinatos na vila vizinha, essas são algumas das peças que ajudam a compor essa obra melancólica.

      "O Museu do Silêncio" é um livro que nos envolve em uma atmosfera de mistério desde sua primeira página. Cada personagem, cada lugar e cada peça desse estranho museu é um enigma a ser decifrado, aliás, o livro como um todo é, de certa forma, um enigma. Um estudo sobre a passagem do tempo? Sobre a memória? Sobre o luto? Um suspense ou até mesmo um thriller? Pode-se dizer que ele é tudo isso e mais um pouco. Com uma narrativa delicada, Yoko Ogawa nos enreda por caminhos obscuros mas inerentes das relações humanas. Essa foi, sem dúvida, mais uma experiência positiva da minha empreitada japonesa. Embora a obra não traga muito da cultura de seu país, isso propositalmente (o fato dos personagens não terem nome e da história se passar em local e tempo desconhecidos não é por acaso), ainda assim, é uma narrativa que tem uma sensibilidade diferente do que estamos acostumados a ver na literatura ocidental. Com certeza, uma autora que irei revisitar.

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