RESENHA: Cadeiras Proibidas - Ignácio de Loyola Brandão

      Nascido em 1936, na cidade de Araraquara, São Paulo, Ignácio de Loyola Brandão é um dos mais célebres e prolíficos escritores da nossa literatura. Vencedor dos prêmios Jabuti (2008) e Machado de Assis (2016), Loyola é membro da Academia Brasileira de Letras, onde ocupa atualmente a cadeira de número onze. Mais recentemente, em maio de 2021, foi eleito Personalidade Literária do Ano pelo Prêmio Jabuti. Em 1965, publicou o seu primeiro livro, "Depois do Sol". Desde então, manteve sua pena sempre ativa e compôs uma vasta obra literária. Uma de suas principais obras, "Zero", foi publicada primeiramente na Itália, por conta da censura imposta pela Ditadura Militar, e só posteriormente veio a ganhar uma edição nacional, o que acabou colaborando para que autor fosse traduzido para diversas outras línguas e tivesse sua obra propagada em outros países.

      Publicada pela primeira vez em 1976, "Cadeiras Proibidas" é segunda coletânea de contos de Loyola e reúne 38 histórias, distribuídas em oito partes ou temas: "Cotidiano", "Corpo", "Clima", "Mundo", "Indagação", "Descoberta", "Ação" e "Vida". A maioria dos contos são curtos, de duas a três páginas, porém, isso é tudo que o autor precisa para apresentar as suas armas. Dono de uma ironia sem igual, Loyola faz o uso de metáforas e coloca seus personagens nas situações mais absurdas para tecer suas críticas. Homens cujas orelhas não param de crescer, homens que se transformam em barbantes e mulheres que contam portas, esses são apenas alguns exemplos das maluquices que vamos encontrar dentro dessas páginas. Uma sociedade com a cara do povo brasileiro, dada ao comodismo e a alienação, também marca o livro. Paralelos com obras clássicas da distopia, como "1984" (George Orwell), "Fahrenheit 451" (Ray Bradbury) e Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley), podem ser traçados facilmente. Alguns contos ainda trazem uma pegada meio kafkiana e um deles parece até preceder a treva branca de "Ensaio Sobre a Cegueira", do português José Saramago. Assim como toda obra distópica, embora suas críticas sejam direcionadas a um período específico da história, no caso a Ditadura Militar, "Cadeiras Proibidas" não se limita a isso e suas críticas, infelizmente, ainda ecoam em nossa sociedade atual.

(Loyola durante a Cerimônia de Posse na ABL, em 2019)

      Essa foi minha primeira experiência com Loyola e isso me fez perceber o quanto, atualmente, eu ando em falta com a literatura nacional (e quanta coisa boa eu estou perdendo por isso!). Mas antes tarde do que nunca, não é? Graças ao grupo de leitura "Entre Nós", eu fui obrigado a sair da zona de conforto e acabei sendo presenteado. Já estou ansioso para conhecer outras obras do autor, bem como a de outros gigantes nacionais.

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