RESENHA: O Fuzil de Caça - Yasushi Inoue

"Amar, ser amado: como são tristes nossos atos."



      Publicado pela primeira vez em 1949, no período do pós-guerra, "O Fuzil de Caça" explora as camadas ocultas de uma cultura até então extremamente fechada, engessada por tabus e profundamente traumatizada. Nesse romance epistolar, o primeiro do japonês Yasushi Inoue, somos colocados na posição de voyeur de uma relação extraconjugal. Tudo começa quando um escritor recebe um convite para publicar um poema em uma revista de caça. Tal poema, intitulado "O Fuzil de Caça", acaba destoando totalmente do conteúdo da revista e chamando a atenção de Josuke Misugi, um caçador. Tem início então uma troca de correspondências entre escritor e caçador na qual um aparente corriqueiro caso de traição tem todas as suas camadas e perspectivas reveladas, ganhando assim ares de poesia.

      Mas "O Fuzil de Caça" é bem mais que uma história de infidelidade. É também uma história de perda, luto, dor, amor. Uma obra melancólica, dura e tristemente bonita. O que começa com um caso banal vai evoluindo, com a leitura das cartas, para algo grandioso e profundo. Solidão é a palavra que melhor descreve esse livro. Aqui ela é palpável e perigosamente atraente, como uma serpente que vai se enrolando em torno da gente ao longo da leitura, e no final, quando nos damos conta, já estamos envolvidos até o pescoço e a ponto de sermos esmagados por esse pequenino de pouco mais de cem páginas. Uma obra que explora os recônditos humanos e reflete o que é viver e estar exposto às intempéries da vida e às imperfeições que nos tornam seres humanos.


      Sem dúvida essa foi uma das experiências mais significativas que já tive com a literatura japonesa. Em poucas páginas o autor conseguiu me envolver em uma atmosfera sensível e melancólica, típica da literatura oriental, e provocar uma torrente de sentimentos (que ainda estou digerindo). "O Fuzil de Caça" foi uma leitura que conversou profunda e intimamente comigo e Yasushi Inoue é um autor que com certeza irei revisitar em um breve futuro.

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