RESENHA: Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk - Nikolai Leskov

      Nascido em 1831, no povoado de Gorókhovo, província de Oriol, Nikolai Leskov é reconhecido como um dos grandes nomes da literatura russa do século XIX, ao lado de mestres como Dostoiévski, Tolstói, Turguêniev, Gógol e Tchekhov. Exímio contista e novelista, destacou-se por incorporar a alma popular russa em sua obra, elemento esse que se deve principalmente a dois episódios da vida do autor: 1) Ainda na infância, Leskov mudou-se com sua família para o campo, onde entrou em contato com um modo totalmente diferente de vida e com uma linguagem popular que não se encontrava na cidade. 2) Antes de se dedicar a escrita, desempenhou as mais diferentes funções, mas foi sua atuação no comércio que propiciou a oportunidade de viajar por diversas regiões da Rússia e conhecer uma miríade de classes e personalidades diferentes. Ambas as experiências ecoariam em suas obras e personagens quando mais tarde, em 1862, Leskov daria início a sua carreira literária. E foi justamente uma dessas memórias da vida no campo que inspirou "Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk".

      Publicada pela primeira vez em 1865, como "Lady Macbeth do Nosso Distrito" e sob o pseudônimo de M. Stiebnitski, na revista Epokha (dirigida por Dostoiévski), essa novela nos coloca em meio a uma tragédia shakespeariana à russa. Catierina Lvovna é casada com um rico comerciante e passa os seus dias sozinha, envolta em tédio e melancolia, "como um canário na gaiola". É então que entra em cena Serguiêi, um dos servos da propriedade. Nele, Catierina encontra consolo, divertimento, paixão, amor e também a sua perdição. Mas essa é bem que uma simples história de triângulo amoroso. Disposta a fazer de tudo para elevar Serguiêi ao posto de comerciante, Catierina não medirá esforços e irá recorrer aos mais perversos meios para alcançar seu objetivo. Como a história se passa em uma sociedade extremamente patriarcal, na qual a mulher é vista como submissa, as primeiras travessuras de Catierina ganham um tom de rebeldia e chegam até a divertir. Porém, com o passar das páginas, nós vamos conhecendo o lado mais obscuro de Catierina e as coisas começam a sair dos trilhos. A novela vai se tornando cada vez mais pesada.

      Essa foi a minha primeira experiência com Leskov e o autor conseguiu, em poucas páginas, deixar uma forte impressão em mim. Acompanhar o psicológico de Catierina, sua derrocada página a página, foi o que eu mais gostei nessa leitura (apesar de ser assustador). A forma como o autor retrata o popular russo, com sua linguagem errática, seus costumes e trejeitos, foi outra coisa que me chamou bastante atenção e que me fez lembrar Dostoiévski. Quanto a ideia de trazer uma tragédia de Shakespeare para a sociedade russa do século XIX, foi executada com maestria. O autor conseguiu traduzir muito bem todo o drama da peça junto as nuances da sociedade de seu país e de seu tempo. Mais um mestre russo e uma grande obra lidos.

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