RESENHA: Fluam, Minhas Lágrimas, Disse o Policial - Philip K. Dick

      Nascido em 1928, na cidade de Chicago, Illinois, Philip K. Dick foi um prolífico e influente escritor que alterou profundamente o gênero da ficção científica. Sua obra, marcada pelo questionamento da realidade e da condição humana, possui um forte senso político e filosófico. Em seus mais de trinta romances e mais de cem contos publicados é comum nos depararmos com temas como realidades alternativas, futuros distópicos, experiências transcendentais, consumo de drogas e religião. Apesar de ter vencido o Prêmio Hugo de Literatura em 1962, com o romance "O Homem do Castelo Alto", o autor infelizmente não colheu os frutos de seu trabalho em vida. Dono de uma mente inquieta e questionadora, PKD teve uma vida marcada por "eventos mentais" que afetaram muito seu psicológico e impactaram sua vida pessoal. A maior parte de sua carreira literária se resumiu a publicações de baixo custo em pequenas editoras e as dificuldades financeiras o acompanharam até o fim de sua vida. Dias melhores viriam com as inúmeras adaptações de sua obra para o cinema, a mais famosa delas, o clássico "Blade Runner" (1982), com a qual o próprio autor esteve envolvido no projeto mas veio a falecer pouco antes do lançamento. Depois vieram "O Vingador do Futuro" (1990), "Assassinos Cibernéticos" (1995), "Impostor" (2002), "Minority Report" (2002) e muitas outras, o que fez de PKD um dos autores mais adaptados e, consequentemente, populares do gênero.

      Publicado pela primeira vez em 1974, "Fluam, Minhas Lágrimas, Disse o Policial" é um dos principais romances de PKD. A obra foi indicada aos prêmios máximos da ficção científica, Hugo e Nebula, e apesar de não faturar os títulos, acabou vencedora do John W. Campbell de 1975. A história se passa em um futuro distópico, no qual os EUA se tornaram um Estado policial após passar por uma Segunda Guerra Civil. Jason Taverner é uma estrela da música e da televisão que um dia acorda em um quarto de hotel barato sem saber como foi parar ali. As coisas começam a ficar mais estranhas quando Taverner tenta entrar em contato com seus amigos e sua namorada, ninguém se lembra dele! Mais do que fama e dinheiro, ele perdeu sua identidade. Não há registro de seu nascimento, não há uma escola em que ele tenha estudado, não há uma empresa em que tenha trabalhado. Jason Taverner se tornou uma despessoa, uma celebridade que ninguém jamais ouviu falar.

      Com uma escrita fluida e bem humorada, PKD nos guia em um mundo de personagens psicóticos, carros voadores, campos de trabalhos forçados, sexo, drogas e jogos políticos. Em meio a esse caos, Taverner tenta recuperar sua identidade. A maior parte da narrativa se passa através de diálogos, que são, pra mim, o ponto forte do autor, onde podemos dar boas risadas e também nos depararmos com questões existenciais. Assim como o protagonista, o leitor também não sabe o que está acontecendo durante a maior parte do romance e tem que ir ligando os pontos, pescando informações aqui e ali, em meio a inteligentes e divertidos diálogos, para compreender melhor esse mundo distópico no qual foi jogado. Difícil comentar sobre esse livro sem entregar demais da história, a graça está justamente em fazer as descobertas, página a página, junto com Taverner. Confesso que esperava um pouco mais do final. Mas é PKD, né? Sempre vale a leitura!

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