RESENHA: O Sol Também Se Levanta - Ernest Hemingway


      Nascido em 1899, na cidade de Oak Park, Illinois, Ernest Hemingway foi um dos maiores e mais influentes escritores norte-americanos de sua geração. Iniciou sua carreira como jornalista no The Kansas City Star, onde desenvolveu seu estilo de escrita. Influenciado por Jack London, começou  escrevendo contos. Seus primeiros trabalhos já davam mostra de elementos que permeariam toda sua obra literária: uma escrita lacônica e de tom melancólico. Teve uma vida marcada por acontecimentos traumáticos como a conturbada relação com o pai e com as mulheres, a participação na Primeira e na Segunda Guerra Mundial, além da Guerra Civil Espanhola. Problemas financeiros e de saúde também fizeram parte da vida do autor, que chegou ao fim na manhã de 2 de julho de 1961, quando Hemingway suicidou-se com um tiro de fuzil. Um trágico fim para o vencedor dos prêmios Pulitzer de Ficção (1953) e Nobel de Literatura (1954).

      Hemingway sempre colocou muito de si em suas obras, pode-se dizer que todas elas são, de certa forma, autobiográficas ou que foram inspiradas em acontecimentos que marcaram profundamente a vida do escritor. "Adeus ás Armas" reflete suas experiências na Primeira Guerra. A Guerra Civil Espanhola, por sua vez, inspirou "Por Quem os Sinos Dobram", seu maior romance. Nos Loucos Anos 20, Hemingway se exilou na Europa e integrou o grupo que ficou conhecido como a "Geração Perdida", também formado por nomes como F. Scott Flitzgerald, Ezra Pound, Sherwood Anderson, T. S. Eliot e muitos outros. Parte desse período, Hemingway passou na Espanha, onde afeiçoou-se a tourada. Não satisfeito em apenas cobrir os eventos e estar em contato com os famosos toureiros espanhóis, Hemingway chegou até a empunhar a muleta e tourear como amador. Dessa experiência nasceu "O Sol Também Se Levanta".

(Ernest Hemingway)

      Publicado pela primeira vez em 1926, o romance retrata a euforia do período pós-guerra, quando toda uma geração com os valores distorcidos buscava por uma direção enquanto ainda celebrava o fim das tristezas e das agonias deixadas pela Grande Guerra e pela Gripe Espanhola. Aqui nós vamos acompanhar um grupo de amigos expatriados em uma viagem a Pamplona, na Espanha, para a Fiesta de San Fermín, tradicional festa religiosa que acontece anualmente por lá. Os personagens, inspirados no próprio autor e no seu círculo de amizades, são personificações dos sentimentos que marcaram aquela geração dos Loucos Anos 20. Uma ânsia de viver é a sua principal marca, espaçada por breves episódios de melancolia nos raros momentos em que estão sóbrios. Sim, os personagens passam quase todo o romance chapados, pulando de bar de bar, ou em bailes e cafés, acompanhados de prostitutas, acordando ao meio dia e curando a ressaca mandando mais álcool pra dentro. A cultura espanhola também é ricamente explorada: os touros, a música, a dança, as procissões religiosas, as comidas e as bebidas típicas, tudo isso cria uma atmosfera muito envolvente e não dos deixa perder nada da grande festa. Mas não se engane, nem tudo é uma maravilha. Conforme vamos conhecendo melhor os personagens, eles vão se revelando personalidades complexas. Na superfície o mar pode estar calmo, mas em suas profundezas a história é bem diferente. Nos raros momentos de sobriedade e de solidão, os personagens são acometidos por uma melancolia e um medo não se sabe do que.

(Hemingway na Fiesta de San Fermín)

      "O Sol Também Se Levanta" é uma obra que diz muita coisa em suas entrelinhas, mas corre-se o risco de passar batido por ela se não houver uma contextualização. Hemingway faz aqui um jogo de sombra e luz muito interessante e que traduz muito bem as turbulências sociais e psicológicas que assolavam as pessoas naquele período pós-guerra. O romance se tornou não só uma de suas principais obras como também uma espécie de porta-voz de toda uma geração que estava desesperada para se reconstruir, sem fazer ideia de que o pior ainda estava por vir, alguns anos mais tarde, com a ascensão do fascismo.

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