RESENHA: Diário de um Velho Louco - Jun'ichiro Tanizaki

      Nascido em 1886, em Tóquio, Jun'ichiro Tanizaki foi um escritor japonês que fez parte da chamada escola Tanbiha, aquela que, indo contra as tendências objetivistas de sua época, defendia o tradicionalismo japonês e a ideia de "arte e beleza acima de tudo". Tanizaki nunca viajou para o Ocidente, fato este que o afastou de qualquer influência, seja ela cultural, moral ou religiosa, do outro lado do mundo. Sua obra é marcada por um tom intimista e repleta de sensualidade, dentro dela é comum nos depararmos com temas como infidelidade, fetichismo, sadismo e voyeurismo. Muitos de suas personagens, seguindo a tradição budista, desconhecem a ideia de pecado. Dentre suas principais obras estão "Naomi", "Voragem", "Narrativas de um Cego", "As Irmãs Makioka", A Chave" e, minha escolha para expandir meus horizontes japoneses, "Diário de um Velho Louco".


      Publicado pela primeira vez em 1961, o romance nos apresenta o septuagenário Tokusuke Utsugi, patriarca de uma tradicional família japonesa e que já viu dias melhores. O ancião ostenta uma extensa lista de problemas de saúde (nevralgia, hipertensão, dores reumáticas, sequelas de um AVC, problemas cardíacos, convulsões... E isso só pra citar alguns!) e passa os seus dias a base de comprimidos e injeções, indo de uma consulta a outra, sendo submetido a infindáveis exames médicos e constantes visitas ao hospital. Não que ele concorde muito com isso. Tokusuke faz de sua casa um verdadeiro campo de guerra. Teimoso, o velho sempre dá um jeitinho de burlar as recomendações médicas, fugir da dieta e, claro, irritar sua velha esposa, o que rende até alguns momentos de humor durante a leitura. Sem ter muito ao que se apegar, Tokusuke passa a encarar a própria morte com certo alívio. Mas enquanto ela não chega, ele decide abandonar todas as amarras sociais e se entregar aos prazeres que a vida ainda pode lhe proporcionar. É aí que entra Satsuko, uma ex-dançarina de casas noturnas. Porém, tem um detalhe: a garota é sua nora.

      Escandaloso? Sim, mas não pornográfico. Tanizaki explora mais o lado psicológico de suas personagens, ou seja, seu estado de excitação sexual, do que o sexo em si, o que caracteriza o erotismo. A narrativa em forma de diários, como o título sugere, deixa tudo mais verossímil e nos permite acompanhar de perto o que se passa no âmago do pensamento do velho. A tensão sexual entre sogro e nora vai crescendo página a página, assim como seu estado de saúde parece piorar. Mais que uma obsessão, Satsuko se torna uma espécie de arrimo de vida para Tokusuke. Mas classificar essa obra apenas como erótica seria limitá-la. Relações desgastadas, a morte, a passagem do tempo, esses são alguns dos temas que vêm à tona ao longo da leitura, todos eles intrínsecos à vida, assim como a sexualidade também é.

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