RESENHA: Alguma Poesia - Carlos Drummond de Andrade


      Dando sequência em minhas peripécias poéticas, a escolha da vez foi um dos mais influentes poetas brasileiros de todos os tempos: Carlos Drummond de Andrade. Poeta, cronista e contista, Drummond nasceu em 1902, no município de Itabira, em Minas Gerais. Se tornou, ao lado de nomes como Vinícius de Moraes e Murilo Mendes, um dos protagonistas da chamada segunda geração do Modernismo brasileiro. Foi vencedor de prêmios como o Jabuti (1968), Morgado de Mateus (1980) e Juca Pato (1982). Sua obra é vasta e trata de temas que vão desde questões existencialistas até o cotidiano, passando pela infância, a política e o erotismo. E qual a melhor forma de começar a ler Drummond a não ser, é claro, pelo começo?



      Publicado pela primeira vez em 1930 com uma tímida tiragem de quinhentos exemplares, "Alguma Poesia" marca a estreia do jovem, porém já dono de uma maturidade ímpar, poeta mineiro e estabelece os pilares que perdurariam toda sua carreira. O volume reúne 57 poemas, dentre eles os clássicos: "Poema de sete faces", "No meio do caminho", "Infância" e "O sobrevivente". O cotidiano, a passagem do tempo, o amor, a morte, o sexo e a política, esses são apenas alguns dos temas pelos quais passeiam seus versos. Ora melancólico, ora irônico, Drummond faz o uso de uma linguagem simples (tantas vezes criticada pelos mais puristas) que aproxima o poeta do leitor. Se você, assim como eu, é mineiro, irá se sentir em casa com os retratos do interior de Minas "pintados" pelo autor.



      Alguns de seus poemas trazem uma nostalgia, outros botam um sorriso no nosso rosto. E ainda tem aqueles que mergulham a gente em um estado de melancolia ou, às vezes, de estranhamento. Os que mais me tocaram, cada um a seu modo, foram: "Infância", "Eu também já fui brasileiro", "Sentimental" e "O sobrevivente". Esses são daqueles que a gente "rouba" do livro e leva com a gente. Acho que acertei na escolha para começar a ler Drummond. Claro que já tinha lido uma ou outra poesia dele, mas nunca uma obra completa. "Alguma Poesia" é a companhia ideal para a hora do cafezinho e um bom amigo para se ter por perto. 



      A edição da Companhia das Letras traz uma pequena galeria de fotos, a cronologia do autor e um belo posfácio assinado por Eucanaã Ferraz, poeta, crítico e pesquisador da obra de Drummond. O grande destaque desse posfácio fica por conta dos enxertos de correspondência trocada entre o poeta mineiro e Mário de Andrade, na década de 20.

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