RESENHA: Degenerado - Chloé Cruchaudet


      Chloé Cruchaudet é uma premiada cartunista francesa, nascida em Lyon, em 1976. Estudou arquitetura e artes gráficas antes de frequentar a escola de animação Gobelins, onde incorporou elementos do cinema ao seu traço. Suas obras são geralmente inspiradas em biografias e relatos históricos. Vencedora do Prix René Goscinny, "Groelandia-Manhattan" foi inspirada na história de Minik, já em "Ida" a autora se inspirou na história de mulheres viajantes do século XIX. Inspirado no livro "La Garçonne et l'assassin", de Fabrice Virgili e Danièle Voldman, "Degenerado" conta a história de Louise e seu marido travesti, Paul.

(Chloé Cruchaudet)

      Paul e Louise se apaixonam e se casam na brilhante Paris da década de 1910, quando estoura a Primeira Guerra Mundial e o recém-casado se vê obrigado a trocar a lua de mel pelas trincheiras. Incapaz de lidar com os horrores da guerra, Paul volta pra sua terra natal e se torna um desertor, condenado a passar seus dias confinado em um quarto de hotel barato. Para recuperar sua liberdade, ele decide assumir outra identidade. Paul vira Suzanne e o casal tenta levar uma vida normal, se passando por lésbicas. Até aqui a história se resume a um amor tentando sobreviver em tempos sombrios. Mas logo percebemos que Paul/Suzanne carrega consigo alguns traços de transtorno de estresse pós-traumático, como episódios de alucinações e ataques de pânico. Junta-se a isso a culpa e a vergonha que ele carrega por ter fugido da guerra e como resultado temos uma personalidade no mínimo problemática, que só vai encontrar afago se jogando nos excessos dos loucos anos 20. Experimentando as sensações do universo feminino, as desventuras de Suzanne irão cobrar um alto preço.


      Eu não conhecia a verdadeira história do casal e, claro, fui muito impactado pelos rumos que a narrativa tomou. Pelo que pesquisei, a história de Louise e seu marido travesti possui muitas lacunas e é justamente esses espaços em branco que dão lugar a imaginação e que Cruchaudet explora em sua obra. A arte, que remete ao cinema, é deslumbrante, sem dúvida uma das mais belas que já vi em uma HQ. Com tons escuros e tendo o vermelho como a única cor quente e vibrante, o jogo de cores reflete bem os dois principais temas da narrativa: a sexualidade (vermelho) e todo o peso que envolve um período pré, durante e pós-guerra (preto). A edição ainda conta com uma sessão de extras onde podemos conferir alguns trechos de cartas e excertos de diários relacionados ao caso Louise/Paul/Suzanne, o que deixa a experiência de leitura ainda mais completa. "Degenerado" é uma história multifacetada que pode ser lida como uma biografia, um registro histórico ou uma trama que gira em torno de identidade de gênero. Mas, não importa a forma como seja lida, ao final, o impacto é certo.







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