RESENHA: A Ilha - Aldous Huxley


      Nascido no condado de Surrey, Inglaterra, em 1894, Aldous Huxley foi um dos maiores escritores e pensadores de seu tempo. Antes de se dedicar a escrita formou-se em medicina, curso que quase não concluiu devido ao agravamento de uma doença oftalmológica. O mesmo problema o deixou de fora da Primeira Guerra Mundial, experiência que acabou sendo fundamental para que Huxley desenvolvesse seu senso crítico político e social, enquanto assistia aos horrores da guerra de uma perspectiva mais ampla. Publicou sua primeira obra em 1921, depois vieram inúmeros contos, poesias, ensaios e romances, sendo os mais famosos deles:  "Contraponto" (1930) e "Admirável Mundo Novo" (1932). Dono de uma mente questionadora, ao longo de sua vida também se interessou por temas como filosofia, meditação e experiências extrassensoriais, muito disso pode ser conferido em seu ensaio "As Portas da Percepção" (1954). Foi nomeado nove vezes para o Nobel de Literatura, mas não chegou a levar o prêmio. Faleceu em 1963, depois de uma luta contra o câncer. Em sua hora fatal pediu para que a esposa lhe injetasse uma overdose de LSD.

      Publicado pela primeira vez em 1962, "A Ilha" é o seu derradeiro romance. Ao contrário do que fez em "Admirável Mundo Novo", aqui Huxley nos apresenta uma utopia. Após sofrer um naufrágio, o jornalista Will Farnaby vai parar na ilha proibida de Pala e lá entra em contato com uma civilização utópica que vive isolada do resto do mundo. Unindo o que há de melhor entre Ocidente e Oriente, ciência e religião, os palaneses levam uma vida bem diferente da nossa, marcada pelo não-consumismo e o não-avanço tecnológico desenfreado, e regada a ioga do amor e ao uso de uma pílula capaz de expandir a consciência. As crianças recebem educação sexual nas escolas, há controle populacional e, consequentemente, não há miséria. Sim, estamos falando de uma sociedade perfeita. Mas que se vê sob a ameaça de um futuro jovem líder reacionário.

(Aldous Huxley)

      Tem muito mais a falar sobre Pala, mas não quero entregar demais, afinal, desvendar os segredos da ilha faz parte da experiência de leitura. Mas esse nem é o principal ponto do romance, a obra propõe tantas discussões que a trama acaba ficando em segundo plano. Eu diria que "A Ilha" é o casamento perfeito entre ensaio e ficção. É como se Huxley não se contentasse apenas em explicar suas teorias e resolvesse demonstrá-las na prática. Ele não apenas critica, por exemplo, os métodos tradicionais de ensino, os dogmas religiosos e a indústria farmacêutica, como propõe alternativas. Cabe até uma reflexão sobre Hitler e Stálin e o que poderíamos fazer para impedir que novos Hitlers e Stálins surjam. E quem já leu "As Portas da Percepção" vai ver o autor revisitando o tema, dessa vez imaginando a droga "reveladora da verdade" aplicada em larga escala. Assim como Will, nós também acabamos sofrendo um choque cultural ao longo da leitura e somos convidados a refletir e a reimaginar a sociedade em que vivemos e questionar seus valores.

      Em "A Ilha" você não irá encontrar personagens bem desenvolvidos nem grandes plot twists. Não é o tipo de livro que tenha muita ação, mas que faz pensar. Já mais maduro e com a escrita mais refinada, em seu último romance Huxley propõe debates no campo político, social, filosófico, religioso e até psicológico, e nos deixa com a intrigante pergunta: Seria a utopia alcançável?

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