RESENHA: Meridiano de Sangue - Cormac McCarthy


      Nascido em 1933, em Providence, no estado de Rhode Island, Cormac McCarthy é, ao lado Philip Roth e Don DeLillo, um dos maiores nomes da literatura norte-americana contemporânea. Antes de se dedicar a escrita, serviu na Força Aérea dos EUA e estudou artes na Universidade do Tennessee. Publicou obras memoráveis como "Meridiano de Sangue" (1985), "Todos os Belos Cavalos" (1992), "Onde os Velhos Não Tem Vez" (2005) e "A Estrada" (2006). Também é vencedor dos prêmios National Book Award (1992), National Book Critics Circle Award (1992), James Tait Black Memorial Prize (2006) e Pulitzer de Ficção (2007). A adaptação cinematográfica de "Onde os Velhos Não Tem Vez", dirigida pelos irmãos Coen, foi vencedora do Oscar de Melhor Filme, em 2008.

      Publicado pela primeira vez em 1985, "Meridiano de Sangue" é seu quinto romance e entrelaça fatos e ficção para recontar a história do oeste americano. A obra se passa na década de 1840 e conta a trajetória de um jovem do Tennessee, órfão de mãe, que foge de casa aos 14 anos de idade e é recrutado por uma gangue de mercenários que atravessa regiões inóspitas entre o Texas e o México, assassinando índios e arrancando seus escalpos em troca de recompensas. Essa gangue é liderada por ninguém menos que John Joel Glanton, um dos primeiros colonos do Texas Mexicano que, depois da Guerra Mexicano-Americana, realmente liderou um grupo de caçadores de escalpos no sudoeste americano. Juntam-se a esse personagem histórico o enigmático juiz Holden, o disforme Toadvine, o ex-padre Tobin e muitos outros. A trupe percorre uma terra sem lei, debaixo do sol escaldante, sob a ameaça de feras e tribos selvagens, comendo carne crua e dormindo junto à carcaça dos mortos, deixando um rastro de sangue e morte por onde passa. Violência, racismo e loucura dão o tom à obra.

(Cormac McCarthy)

      Apesar de ter gostado da leitura, esse não é o tipo de livro que eu recomendo para todos, por dois motivos. Primeiro, pela violência envolvida, elemento que nos é apresentado logo nas primeiras páginas e que permeia toda a narrativa. Cenas de verdadeira carnificina são comuns ao longo do romance e o autor não alivia nas descrições. Não é uma violência gratuita, está ali como marca de um contexto histórico, mas é algo que pode incomodar leitores mais sensíveis. O segundo motivo é a escrita de McCarthy que, apesar de ser altamente imersiva, do tipo que a gente abre o livro e em poucas linhas se sente transportado pra dentro da história, não é exatamente difícil mas possui certas particularidades. O autor, por exemplo, não faz o uso de travessão ou aspas durante os diálogos. Tudo é narrado da mesma forma. Nada laborioso ao nível de Saramago (McCarthy pelo menos usa parágrafos), mas é uma escrita diferente. Senti um pouco de dificuldade com isso no início, mas nada que comprometa, é mais uma questão de se acostumar.

      "Meridiano de Sangue" é tido como um dos maiores marcos da literatura norte-americana e não por acaso. Mas esse bárbaro retrato do oeste americano pode ser facilmente trazido para outros contextos. Desde tempos remotos, a violência vem sendo o principal cartão de visitas da humanidade, seja na disputa por terras, por política, religião, raça, cor, sexo, não importa! Parece que, assim como a gangue de Glanton, estamos fadados a ser uma espécie daninha e deixar um rastro de sangue por onde passamos.

(Glanton e sua gangue)

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