RESENHA: O Livro do Mar - Marten A. Strøksnes


      Nascido em 1965, na cidade de Kirkenes, Marten Andreas Strøksnes é um historiador, jornalista, fotógrafo e escritor norueguês. Ele escreve ensaios, reportagens, resenhas e colunas para jornais e revistas de seu país, e também publica livros de não-ficção, sendo "O Livro do Mar" um deles. Aqui o autor relata sua busca, acompanhado pelo amigo Hugo, um excêntrico pescador da ilha de Skrova e artista nas horas vagas, pelo enigmático tubarão-da-Groenlândia, espécie colossal que habita as profundezas dos fiordes noruegueses. Mas, apesar de ser o ponto de partida, a caça ao tubarão não é o principal aqui. Enquanto navega pelo Vestfjorden, Strøksnes divaga sobre os mais variados assuntos: história, arte, mitologia, biologia, etc. Tudo muito bem contrastado pelas "histórias de pescador" de Hugo, um figuraça. A narrativa assume um tom ora poético, ora mais jornalístico. Ao longo da leitura vamos conhecer um pouco da cultura e do folclore escandinavos, da história da navegação e da pesca norueguesas, e algumas espécies pra lá de curiosas que habitam as fossas abissais. Com seu livro, Strøksnes levanta uma importante reflexão sobre a relação homem-natureza e deixa um alerta sobre a forma como temos "cuidado" do nosso planeta.

(Bote navegando pelo Vestfjorden)

      As profundezas marinhas sempre despertaram fascínio. Lá, dividem espaço a baleia branca de Melville, o submarino de Verne e alguns dos piores pesadelos de Lovecraft. Até mesmo Poe fez sua incursão marítima na "Descida ao Maelström". Na cultura pop, é lá que se esconde o Godzilla e o tubarão gigante de Spielberg. Nos mapas antigos os homens preenchiam as águas inexploradas com criaturas terríveis, como dragões e serpentes marinhas. E na mitologia o mar também abriga seus horrores, como o Kraken, a Hidra, o Leviatã e Jörmundgandr. Ainda hoje, o mar guarda muitos segredos e conserva seu poder de fascínio. O livro de Strøksnes conversa muito com isso. O tubarão-da-Groenlândia é sua Moby Dick e, assim como o capitão Ahab, Strøksnes e Hugo estão sujeitos a obsessão. E não estamos todos? Talvez só estejamos perseguindo "monstros" diferentes.

(O tubarão-da-Groenlândia)

      Apesar de ter gostado da leitura, esse não é o tipo de livro que indicaria para todos. É uma leitura para os que compartilham desse fascínio pelo mar. E não falo de praia, falo de mar mesmo: imponente, obscuro e misterioso, às vezes traiçoeiro. A linguagem jornalística pode deixar a leitura um pouco enfadonha em alguns momentos, como quando o autor discorre longamente sobre os faróis da Noruega ou sobre a pesca do bacalhau. Se você não for um apaixonado, pode sentir um pouco de dificuldade para seguir adiante. Por outro lado, se você gosta de uma leitura mais contemplativa e não se incomoda tanto com digressões, e, principalmente, se gostou de ler "Moby Dick", "20 Mil Léguas Submarinas" e "Robinson Crusoé", pode mergulhar fundo nessa leitura.

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