RESENHA: O Conde de Monte Cristo - Alexandre Dumas


          Romancista e dramaturgo, Alexandre Dumas nasceu na comuna francesa de Villers-Cotterêts, na região de Aisne, em 1802. Filho do General Alexandre Davy de la Pailleterie, membro das forças napoleônicas, tinha ascendência negra, uma vez que sua avó paterna foi uma escrava tomada pelo marquês Alexandre, seu avô. Antes mesmo de completar vinte anos, Dumas já escrevia teatro, mas sua paixão pela dramaturgia como profissão só viria a despertar de forma definitiva mais tarde, após assistir a uma apresentação de "Hamlet", em Paris. Radicado na "cidade do amor", escreveu peças de sucesso como "Henrique III e sua Corte", "Christine" e "Antony", passando então a frequentar os círculos literários da capital francesa. Em parceria com Auguste Maquet, uma espécie de ghost-writer (parceria essa que acabaria muito mal, com troca de acusações, disputas judiciais, processos, etc.), Dumas começou a se dedicar aos romances de folhetim. Em 1840, iniciou a publicação de "Os Três Mosqueteiros", obra responsável por alavancar sua carreira internacional. Era só o início da prolífica e grandiosa carreira de um dos mais célebres romancistas do século XIX. A obra completa de Dumas soma mais de 600 títulos, já foi traduzida para inúmeras línguas e ganhou adaptações memoráveis.

(Alexandre Dumas)

          Publicado originalmente em formato de folhetim, entre agosto de 1844 e janeiro de 1846, "O Conde de Monte Cristo" era inicialmente um livro de impressões de viagem que acabou se tornando um robusto romance. A obra narra a trajetória de Edmond Dantès, um jovem marinheiro e futuro capitão a serviço da Casa de Morrel e Filho, e noivo da bela Mercedes. Com um futuro promissor pela frente, a vida parecia sorrir para Dantès, mas quis o destino que uma nuvem negra cruzasse seu caminho. Vítima de um complô, Dantès é confinado nas masmorras do Castelo de If, em uma ilha isolada, sem chances de fuga. Privado não só de sua liberdade, mas também de sua identidade (agora sem nome, ele é apenas o nº 34), o prisioneiro flerta com a loucura, o medo e a morte em seu calabouço. Seu desespero, quem diria?, só viria a ser aplacado pelo abade louco, o prisioneiro da cela vizinha. Nele, Dantès encontra a chave para o conhecimento, para a liberdade e para a vingança contra aqueles que o condenaram a uma vida de sofrimento. Aventura, mistério, dramas familiares, intrigas, traições, duelos, tesouros perdidos e envenenamentos misteriosos, esses são apenas alguns dos elementos que compõem essa aprimorada narrativa, na qual Dantès toma para si o papel de Providência, punindo e recompensando como se fosse um emissário de Deus.


          Apesar do clima de "capa e espada", estilo que consagrou Dumas, "O Conde de Monte Cristo" é bem mais que uma simples história de aventura. Em suas páginas, o autor destila críticas políticas e sociais, e não poupa a classe aristocrática e as autoridades francesas, seus principais alvos. O contexto histórico também é ricamente explorado, tendo Luis XVIII e Napoleão como personagens, e episódios como a disputa entre bonapartistas e monarquistas, o exílio e a volta de Napoleão de Ilha de Elba e o Governo dos Cem Dias como cenários. Falando ainda em personagens, não bastasse estes serem memoráveis, Dumas ainda os move com a maestria de um jogador de xadrez, costurando realidade e ficção, e traçando uma intrincada trama, sem deixar sequer uma ponta solta. Acompanhar a metamorfose de Dantès e suas maquinações em busca de vingança não só imprime ritmo a leitura como a torna formidável. Retrato fiel da sociedade de sua conturbada época, o romance não perde em nada para seus contemporâneos, "Os Miseráveis" (Victor Hugo) e "Guerra e Paz" (Liev Tolstói), mas possui um diferencial: a escrita de Dumas é coesa e altamente imersiva, os capítulos são curtos, repletos de ação e diálogos marcantes, sempre fechando com um ótimo gancho que nos impele a iniciar já a leitura do próximo. É impossível parar de ler! E, ao contrário de seu amigo Hugo, Dumas não faz longas digressões. Tudo isso faz do "Conde" uma leitura fácil, rápida e extremamente agradável, apesar do volume.


          Quanto a edição, segue o padrão Clássicos Zahar de qualidade. A obra aqui foi dividida em dois tomos e vem muito bem acompanhada de um box primoroso. Os livros trazem mais de 170 ilustrações originais (de autoria de Gustave Staal, Jean-Adolphe Beaucé, Edmond Coppin, Dieudonné Lancelot, entre outros), notas de rodapé que fazem toda a diferença na hora da leitura (não se perde nenhum detalhe do contexto histórico e das referências que a obra faz) e a premiada tradução de André Telles e Rodrigo Lacerda, vencedora do Prêmio Jabuti. Como resultado, a editora entrega tudo que é preciso para que seja feita uma leitura rica e prazerosa deste que é um dos maiores clássicos do romance francês.

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