CITAÇÕES: Uma Juventude na Alemanha - Ernst Toller



📖 "Os homens aprenderam algo com os sacrifícios e os sofrimentos, a queda e a catástrofe, com o triunfo do adversário e o desespero do povo? Eles captaram o sentido, a lição e o legado daqueles tempos? [...] Não, eles não aprenderam nada nesses quinze anos, esqueceram tudo e não aprenderam nada. Obstinadamente eles fracassaram, repetidamente foram derrotados, açoitados e torturados. Eles fizeram promessas ao povo dia após dia, mês após mês, ano após ano, até que ele, cansado de promessas, buscou conforto no desconforto. A barbárie triunfa, o nacionalismo, o ódio racial e a deificação do Estado cegam olhos, sentidos e corações. Muitos alertaram para isso, e havia anos que o faziam. A culpa pelo enfraquecimento de nossas vozes é só nossa, e ela é a nossa maior culpa."


📖 "O povo espera que a salvação venha de falsos salvadores, e não do conhecimento, do trabalho e da responsabilidade. Ele se regozija com os grilhões que ele mesmo forjou para si a mando dos ditadores. Ele vende sua liberdade e sacrifica sua razão por um prato de lentilha. Pois o povo está cansado da razão, cansado de pensar e repensar. O que afinal, ele pergunta, a razão fez nos últimos anos, em que nos ajudaram o bom senso e os conhecimentos? E ele acredita nos críticos do intelecto, que ensinam que a razão paralisa a vontade, corrói as raízes da alma, destrói o fundamento da sociedade, que todas as dificuldades, sociais e privadas, são obras da razão. Como se alguma vez a razão tivesse estado no comando..."


📖 "Por toda parte a mesma crença insana: um homem, o Führer, o César, o Messias vai chegar e fazer milagres, vai assumir a responsabilidade pelos tempos futuros, consertar as vidas de todos, banir o medo, erradicar a miséria, criar o novo povo, o reino do esplendor pleno, isso mesmo, sua missão sobrenatural é a de transformar até mesmo o velho e fraco Adão. Por toda parte o mesmo desejo insano: encontrar os culpados, os responsáveis pelos tempos passados, sobre os quais se podem descarregar os próprios fracassos, os próprios erros, os próprios crimes - ah! - é o velho cordeiro sacrificial de priscas eras, a única diferença é que agora o sacrifício é feito com pessoas em vez de animais."


📖 "As consequências são terríveis. O povo aprende a dizer sim para seus instintos mais baixos, para sua belicosidade gratuita. Valores intelectuais e morais conquistados através dos milênios com muito esforço e sacrifício tornam-se alvo de zombaria e do ódio das classes dominantes. A liberdade e a humanidade, a fraternidade e a justiça - clichês venenosos, já para o lixo com eles!"


📖 "Vejo os milhares que celebram, com festa e barulho, a perda de liberdade e a condenação do intelecto. Os milhares de enganados e iludidos que acreditam verdadeiramente que o reino da justiça na Terra está próximo. Os milhares que anseiam igualar-se à juventude da Alemanha sacrificada em Flanders e marcham para a morte, vibrando e cantando."


📖 "Dormimos agachados e encostados uns aos outros em abrigos lamacentos. Das paredes, escorre água. nosso pão os ratos mordiscam; e a guerra e o lar atormentam nosso sono. Hoje somos dez homens, amanhã seremos oito, dois foram desmembrados por granadas. Não enterramos nossos mortos. Nós os colocamos em pequenos vãos perfurados na parede da trincheira que usamos para descansar, Quando estou agachado, esgueirando-me pelas trincheiras, não sei se vou passar por um morto ou por um vivo. Aqui, os cadáveres e vivos têm o mesmo rosto amarelo acinzentado. Nem sempre temos que procurar por um lugar para os mortos. Muitas vezes seus corpos ficam tão despedaçados que apenas um pedaço de carne preso a um toco de árvore serve de lembrança deles. Ou eles morrem agonizando no arame farpado entre as trincheiras. Ou, se as minas lançam uma seção da trincheira pelos ares, a própria terra é o coveiro."


📖 "Um homem morto. Não: um francês morto. Não: um alemão morto. Um homem morto. Todos esses mortos são homens, todos esses mortos respiraram como eu, todos esses mortos tiveram um pai, uma mãe, esposas que os amavam, um pedaço de terra em que criaram raízes, rostos que exprimiam suas alegrias e sofrimentos, olhos que viam a luz e o céu. Nesse momento percebo que eu estava cego porque havia me cegado, nesse momento percebo, finalmente, que todos esses mortos, franceses e alemães, eram irmãos e que eu sou irmão deles."


📖 "A guerra vira coisa rotineira, servir no front vira um trabalho como qualquer outro, heróis viram vítimas e voluntários viram conscritos. A vida é um inferno, a morte uma bagatela, todos somos engrenagens de uma máquina que roda em frente, ninguém sabe pra onde, que roda pra trás, ninguém sabe porquê; Nós somos afrouxados, afiados, substituídos, dispensados - não há mais sentido algum, o que ardia virou cinzas, a dor se exauriu, o solo do qual nasciam a ação e o comprometimento virou um deserto infértil."


📖 "Os políticos mentem para si mesmos e mentem para os cidadãos. Chamam seus interesses de ideais e é por esses ideais - por ouro, por terra, por minério, por petróleo, por coisas completamente mortas - que as pessoas morrem, passam fome e se desesperam."


📖 "A verdade é o maior de todos os bens nacionais. A única coisa a se fazer com um Estado, um povo ou um sistema no qual a verdade é suprimida ou nem mesmo ousa dar as caras, é colocá-lo por terra tão rápida e definitivamente quanto possível."


📖 "Deparo-me ali com as sombras de meus camaradas mortos. Vejo o muro contra o qual trinta e seis pessoas foram fuziladas; ele está todo perfurado por inúmeros buracos de balas, grudados nele há pedaços de carne ressequida, farrapos de cérebro e cabelos, e poças secas de sangue esterilizam a terra à sua frente. Eu conto os buracos de bala no muro, e o carcereiro me explica por que eles estão tão baixo: os soldados de Württemberg, bêbados, miravam na barriga e nos joelhos. "Você não tem o direito de morrer rápido, seu cachorro espartaquista."


📖 "Mesmo agora, com que facilidade as massas são manipuladas por humores, promessas e esperanças de novas vantagens! Hoje elas celebram um líder, amanhã o condenam; hoje elas se aferram a seus princípios, amanhã os abandonam. Como é fácil para grandes oradores conquistar as massas e levá-las a ações cegamente apaixonadas."

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