RESENHA: Eu, Robô - Isaac Asimov


          Escritor, bioquímico e divulgador científico, Isaac Asimov nasceu em Petrovich, na Rússia, entre os anos de 1919 e 1920 (a data é incerta), e naturalizou-se norte-americano em 1928. O Bom Doutor, como é carinhosamente chamado pelos fãs, escreveu e editou mais de 500 obras, entre elas: material didático, enciclopédias, artigos científicos, livros de mistério, fantasia e, claro, ficção científica. Ao lado de nomes como Arthur C. Clarke e Robert A. Heinlein, Asimov é considerado um dos mestres do gênero. Suas obras, entre elas a aclamada série "Fundação", influenciaram praticamente tudo o que foi feito posteriormente dentro do scifi. Até mesmo "Duna" (Frank Herbert) e, consequentemente, "Star Wars" beberam de sua fonte. Publicado pela primeira vez em 1950, "Eu, Robô" não fica atrás. A obra é um dos mais influentes clássicos de gênero e marca um dos momentos definitivos da ficção científica.

(Isaac Asimov)

          Robôs não eram então novidade na ficção. Em 1921, o termo já havia aparecido pela primeira vez na peça "R.U.R.", do checo Karel Čapek. Depois dos horrores da Primeira Guerra, era comum que as máquinas assumissem papéis de vilões na ficção. Mas Asimov questionava: "Não conseguia acreditar que, se o conhecimento oferecesse perigo, a solução seria a ignorância." Seu ponto era que a ciência não merecia ser condenada e relegada ao mero papel de vilão, e que essa poderia ser usada tanto para o bem quanto para o mal, bem como a mesma energia que pode nos levar ao espaço é capaz de aniquilar toda a vida na Terra. Partindo dessa questão, Asimov almejava escrever uma história onde os robôs fossem retratados de modo afetuoso. Nascia então "Robbie", conto que abre o livro.


          Os contos de "Eu, Robô" giram em torno da Dra. Susan Calvin, maior autoridade em psicologia robótica a serviço da U.S. Robots. Às vésperas de se aposentar, Susan decide abrir o jogo em uma entrevista e traz à luz casos peculiares pelos quais passou ao longo de sua carreira, todos eles, claro, envolvendo robôs. O livro reúne nove contos publicados ao longo da década de 40 e que têm como protagonista as célebres Três Leis da Robótica. Ao longo da narrativa, Asimov vai "brincar" com essas leis e criar enigmáticos problemas. Intercalando momentos de humor e de reflexão, os contos são ora emotivos, ora divertidos. E, às vezes, até sombrios. Mais avançados os robôs, mais complexos os dilemas. De babá-mecanizada à semideuses, a evolução dos robôs é espantosa! Temas como a condição humana, o avanço desenfreado da tecnologia, a ganância das grandes corporações, ética e responsabilidade científicas, livre-arbítrio e até mesmo religião são debatidos ao longo da leitura. Levando em conta que "Robbie" foi escrito sob um viés mais otimista, é interessante perceber como o autor assume um tom mais sombrio nos contos escritos na esteira da Segunda Guerra. Vale lembrar que Asimov teve uma breve carreira militar e que escapou por pouco de participar dos testes da bomba atômica, em 1946.


          Asimov não se considerava um bom escritor de ficção. "Eu, Robô" tem lá os seus problemas, pode faltar um pouco de brilho aos personagens e sua narrativa pode soar um pouco mecânica em alguns momentos, mas nada disso ofusca o brilho da obra que mudou definitivamente o conceito dos robôs na ficção e até mesmo na ciência. Os contos aqui apresentados já nos permitem sentir um gostinho do multiverso asimoviano e algumas conexões com "Fundação" podem ser pescadas aqui e ali. Asimov ainda revisitaria a temática robótica na "Série Robôs", o que é devidamente explicitado pelo próprio autor no posfácio dessa edição. Apesar de não ser uma adaptação direta, o filme, estrelado por Will Smith e dirigido por Alex Proyas, incorpora vários conceitos da obra, mas fica longe de captar toda sua essência.

Comentários