Olga Tokarczuk nasceu em 1962, na cidade de Sulechów, na Polônia. A autora é um dos principais nomes da literatura polonesa contemporânea e, em 2019, foi vencedora do Prêmio Nobel de Literatura. Seu mais aclamado romance, "Sobre os Ossos dos Mortos", foi trazido ao Brasil pela editora Todavia, e a autora, que até então não era muito conhecida por aqui, passou a ser a queridinha de muitos leitores. A obra é uma mistura de fábula, thriller e manifesto em defesa dos animais. Ambientado em uma região inóspita da Polônia, o livro nos apresenta Janina Dusheiko: uma senhora já de idade, excêntrica até os ossos, que passa os dias debruçada em seus estudos astrológicos, traduzindo versos do poeta William Blake, fazendo a manutenção das casas vizinhas e enchendo a paciência da polícia local, denunciando a caça ilegal de animais silvestres que acontece na região. Mais conhecida como "a velha louca", Janina tem uma teoria para tudo. E quando um caçador é encontrado morto nas redondezas, ela logo solta: "esses animais estão se vingando das pessoas".
(Olga Tokarczuk)
A narrativa começa como um thriller, cercada de mistérios, e aos poucos vai ganhando ares mais filosóficos, não desprovida de certa dose de humor. Temas como a relação homem/natureza, a morte, a passagem do tempo e a hipocrisia religiosa surgem ao longo da leitura, e tapas na cara podem saltar de suas páginas a qualquer instante. É um livro que toca em pontos importantes e que levanta debates necessários, sem dúvida. O ponto baixo, pra mim, ficou por conta das partes sobre astrologia, onde a protagonista passa longas linhas traçando mapas astrais de outros personagens e buscando no cosmos algum tipo de explicação para tudo que acontece a sua volta. Pra quem gosta do assunto, é um prato cheio. Pra quem não gosta, paciência. Nada que uma generosa caneca de café bem forte não resolva!
Esperava mais? Talvez. Evito colocar expectativas em livros e pessoas, mas às vezes acontece. Por ser um livro premiado e que muitos leitores têm em alta conta, a gente acaba esperando algo. No geral, gostei da leitura e da forma como a autora amarrou a trama a assuntos mais reflexivos e de suma importância, principalmente no que diz respeito a forma como nos relacionamos com os outros animais. Uma coisa é certa: nunca li nada parecido com "Sobre os Ossos dos Mortos". A obra de Tokarczuk rendeu uma experiência de leitura única e reflexiva. Vale destacar aqui o belo trabalho da capista Flávia Castanheira e da ilustradora Talita Hoffmann, aliás, todo o projeto gráfico do livro está primoroso e conversa muito bem com o teor da obra. Ponto para a Todavia!
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