📖 "Você poderá imaginar alguém tendo ambições quando tem certeza de que não passa de sombras, como o esboço a carvão feito por um artista numa tela que ele sabe que jamais pintará, que permanecerá para sempre um esquete? A ambição em si é apenas carvão, jamais terá as cores da vida. Mas, se o artista é bom, então o esboço pode permanecer lá indefinidamente, para que ele o veja sempre e com ele se atormente como uma possibilidade irrealizada e irrealizável. Bem, eu sou assim."
📖 "Castor colocou na vitrola o adágio do Quinteto para clarinete de Mozart. Paul se pôs completamente de costas, tirando os braços de trás da cabeça e estendendo-os ao longo do corpo apoiados nas almofadas. A música parecia expandir a sala, como se ela pudesse englobar primeiro o jardim, em seguida a floresta, depois o céu, as estrelas, o universo, Deus. O som do clarinete era uma cascata caindo muito branca sobre pedras, e havia notas que brilhavam entre os pinheiros, que às vezes as escondiam e às vezes as revelavam. Brisas moldavam os sons segundo seus próprios impulsos ocultos. A música se realizava fora dele e, no entanto, lhe enchia inteiramente a cabeça, o crânio, o cérebro, em sons com que ele poderia viver ou, com a mesma felicidade, morrer. Era música que transformava todas as coisas vistas em coisas ouvidas."
📖 "Se, enquanto faço alguma coisa agradável, me ponho a pensar num outro sentido que aquilo tenha, diverso do que acho que tem naquele momento, então não estou vivendo naquele momento; estou em algum outro lugar. Com metade da minha mente estou, por antecipação, alhures ou em alguma espécie de futuro. Quero ser em plenitude o que sou, aqui e agora. Ademais, sou eu que estou aqui no meu próprio mundo, e não alguma outra pessoa com a qual deseje partilhar o que só eu posso ser."
📖 "- E o que entende por "viver"? - Bem, entendo que, com toda a minha mente e todo o meu corpo, com cada átomo que é o meu ser, ou isso a que chamo o meu ser, eu possua o que é exterior a mim, e o incorpore como experiência à minha vida. Não posso fazer isso senão no presente, não posso fazê-lo no passado, que já escoou, ou no futuro, que ainda não chegou."
📖 "Certamente que [...] e os outros como ele eram vítimas: vítimas do Tratado de Versalhes, vítimas das reparações, vítimas da inflação, vítimas das suas infâncias de fome e maus-tratos. Mas eles seriam o que eram sem nada disso, a maior parte deles. A maior parte (talvez houvesse exceções) porque já eram isso. As injustiças apenas serviram para dar-lhes desculpas de ser o que eram, desculpas para que eles, escória do mundo, subissem do fundo para a superfície, cobrindo-a de uma vasa pardacenta. E não se poderia dizer a mesma coisa da própria Alemanha, em escala nacional?"
📖 "Aquilo que você é no íntimo é o que conta. O terrível é existirem tantas pessoas que são nazistas no coração sem pertencerem ainda ao partido."
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