RESENHA: Declínio de um Homem - Osamu Dazai

          Nascido em 1909, na cidade de Kanaji, Japão, Osamu Dazai foi um dos maiores escritores japoneses do século XX e um dos expoentes do chamado Watakushi shosetsu, estilo literário japonês caracterizado por temas realistas, traços autobiográficos e uma escrita concisa. Deserdado pelo pai ainda jovem, sua breve vida foi marcada por problemas financeiros e de saúde, e também pelas sucessivas tentativas de suicídio. Dono de uma personalidade autodestrutiva e de um comportamento niilista, Dazai se viciou em álcool e morfina, e acabou dando fim à própria vida quando, junto de sua amante, jogou-se no rio Tama, em Tóquio, às vésperas de seu aniversário de 39 anos.

          Mas sua breve carreira não o impediu de se tornar um best-seller. Publicado no mesmo ano de sua morte, "Declínio de um Homem" já vendeu mais de dez milhões de exemplares e se tornou um clássico da literatura japonesa. Seguindo à risca os elementos do Watakushi shosetsu, a obra é extremamente autobiográfica e relata as angústias e os tormentos de Yozo, alter ego do autor. Jovem, inteligente e de família abastada, Yozo nunca de sentiu à vontade na condição de ser humano. Desde criança, se sentia deslocado do mundo e nutria pelas pessoas ao redor o mais profundo medo. Até que encontra um escape: através do humor, ele esconde sua tristeza e assume o papel de um cômico personagem. Conforme cresce, seus problemas e sua dificuldade em se relacionar com outras pessoas se agravam e, ao se mudar para Tóquio para se dedicar aos estudos, o jovem acaba sendo apresentado ao álcool e à prostituição. Mas esse é apenas o começo de seu declínio.

          A obra é dividida em três cadernos escritos em primeira pessoa: diários dotados de um tom extremamente apático, melancólico e pessimista. A narrativa é visceral. Yozo vai se degenerando, página a página, e se afundando, descendo até o mais baixo grau da escala humana. É como assistir a alguém se desconstruindo, se desumanizando, é doloroso. Quem já viu alguém próximo ser engolido pela depressão sabe bem como é. Por que ler isso? Talvez você esteja se perguntando. E a verdade é que eu não sei explicar. Para tentar entender a mente humana? Revirar as angústias que trazemos no peito? Eu realmente não sei. Às vezes a tristeza é estranha e perigosamente atraente. Se você quer um livro pra te deixar no chão, eis um forte candidato. Aqui não há esperança nem alegria, só dor, sofrimento e escuridão. Esse é, de longe, um dos livros mais tristes que já li, e se torna ainda mais pesado quando nos damos conta de que ele é praticamente a autobiografia de um suicida em seus últimos momentos de desespero.

          *Acredito que já tenha ficado claro, mas não custa reforçar que esse é um livro repleto de gatilhos como abuso de álcool e drogas, violência sexual e suicídio.

(Osamu Dazai)