RESENHA: Enquanto Agonizo - William Faulkner

"Antes de pegar a caneta e escrever as primeiras palavras, eu sabia qual seria a última palavra...
 Antes de começar eu disse: eu vou escrever um livro graças ao qual, em caso de necessidade,
eu possa me manter ou cair se eu nunca tocar na tinta de novo." - William Faulkner


          Nascido em 1897, em New Albany, Mississippi, EUA, William Faulkner foi um dos maiores romancistas do século XX. Vencedor do Nobel de Literatura (1949) e duas vezes vencedor do Pulitzer (1955 e 1962), publicou seu primeiro romance em 1926. Mas foi em 29, com a publicação de "O Som e a Fúria", que deu início a fase áurea de sua carreira, constituída de clássicos como "Luz em Agosto", "Absalão, Absalão" e "Palmeiras Selvagens". Sua obra, marcada pelo fluxo de consciência e conhecida por colocar pessoas comuns em situações desesperadoras e de extrema violência, é tida por muitos como complexa e desafiadora. Na dúvida por onde começar, fui naquele que dizem ser o mais fácil.

          Publicado originalmente em 1930, "Enquanto Agonizo" é considerado um dos maiores romances de língua inglesa do século XX. A obra narra o drama da família Bundren, que luta para cumprir o último desejo de sua matriarca feito em seu leito de morte: ser enterrada aos lado dos seus, na cidade de Jefferson. O marido e os cinco filhos partem então rumo a cidade, dividindo espaço com o caixão em cima de uma carroça maltrapilha guiada por mulas esfomeadas e com um bando de urubus em seu encalço. Mas a travessia dos Bundren vai muito além do plano físico e dos perigos que a viagem oferece. Usando do fluxo de consciência, Faulkner constrói uma intrincada narrativa que passeia pelos mais variados temas, sendo o principal deles a condição humana. Os capítulos são curtos (duas ou três páginas, às vezes uma) e narrados sob a perspectiva de diferentes personagens. Vertiginoso no início, mas nada que a gente não se acostume. Após as primeiras páginas, já se torna impossível largar o livro.

          Além do primor narrativo, a força de seus personagens é outro ponto forte da obra. Passear por suas mentes faz com que a leitura se torne bem mais intimista, é como se sentíssemos suas emoções na pele. Dewel Dell, a única mulher em meio aos irmãos, é uma fortíssima personagem feminina e foi a que mais me comoveu entre os Bundren. O garoto Vardaman, caçulinha da família, não fica atrás: sua inocência contrastada com o mundo árido ao redor é de doer o coração. Enfim, cada personagem é forte à sua maneira e dotado de um sopro de vida que poucos autores conseguem conceber. Uma obra humanamente crua, impactante e visceral. Ler Faulkner é realmente uma experiência singular e acredito que todos deveriam dar uma chance. Não se deixe levar por essa de "leitura difícil". Depois de envolvidos, somos completamente tragados pelo livro e guiados com maestria pela pena faulkniana.

(Faulkner)

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