RESENHA: Felicidade Conjugal - Liev Tolstói


          Um dos maiores escritores não só da literatura russa mas também mundial, Liev Tolstói nasceu em 1828, na propriedade rural de seus pais, em Iasnia Poliana. Ainda jovem, alistou-se no exército russo e serviu no Cáucaso. Publicou sua primeira obra, "Infância", em 1852. Teve sua vida marcada por uma crise moral, seguida de um despertar espiritual, que culminou na sua transformação em uma espécie de anarquista cristão. Suas visões filosóficas e religiosas se tornaram as bases de um movimento social que ficou conhecido como Tolstoísmo, caracterizado pela rejeição da Igreja Ortodoxa, dos métodos tradicionais de ensino, do Estado e de todas as instituições que dele se derivam.

          O autor de clássicos como "Guerra e Paz" e "Anna Kariênina" também era mestre na arte da narrativa curta. Publicada originalmente em 1859, "Felicidade Conjugal" é sua primeira novela e narra as desventuras amorosas de Mária e Sierguiéi. Ela, uma jovem de dezessete anos, ainda no frescor da vida e descobrindo os segredos do coração. Ele, homem já feito, amigo da família e sempre ocupado com os negócios. Ali, na propriedade rural, em meio à natureza e embalado pelos serões ao piano, o amor acaba brotando. Mas será que essa relação entre duas pessoas tão distintas poderia dar certo?

          Em poucas páginas, Tolstói consegue, de formar muito sutil, captar o cerne de uma relação matrimonial, desde o despertar das paixões até a abertura do abismo, passando por todas as turbulências que envolvem o desgaste, o ciúme, a ofensa e a humilhação. Embebida de melancolia e colorida por vívidos retratos da natureza, a obra passa longe de qualquer cenário político/social da época (e olha que a Rússia estava pegando fogo com as reformas de Alexandre II) e foca naquilo que há de mais íntimo no coração de um ser humano: o desejo. Os diálogos, os monólogos, as personagens, tudo é construído com maestria aqui. A escrita concisa e o tema atemporal/universal fazem de "Felicidade Conjugal" o livro perfeito para começar a ler Tolstói, ou até mesmo para iniciar na literatura russa. Obra magistral do Conde e mais um livrinho para o time dos poderosos pequeninos.

(O jovem Tolstói)

Comentários