RESENHA: Chris Cornell, a Biografia - Corbin Reiff


          Dos subúrbios de Seattle para os maiores palcos do mundo, essa é história do garoto tímido e introvertido que se tornou voz de toda uma geração à frente do mastodonte do grunge, o Soundgarden. Vencedor de três Prêmios Grammy, Chris Cornell eternizou sua voz também em outros projetos, como o Temple of the Dog e o Audioslave, trilhou uma carreira solo de sucesso, nos presenteou com memoráveis trilhas sonoras e, recusando-se a permanecer na zona de conforto, se arriscou em parcerias inusitadas. Durante toda sua vida travou uma dura batalha contra a depressão e na fatídica noite de 18 de maio de 2017, aos 52 anos, suicidou-se logo após se apresentar com a sua banda, em Detroit. Depois de seu trágico fim, o jornalista Corbin Reiff, também de Seattle, tomou para si a árdua tarefa de escrever sua biografia. O momento podia não ser dos mais favoráveis, uma vez que família, amigos e companheiros de banda ainda estavam muito receosos e evitavam falar sobre o assunto, mas talvez fosse o mais necessário, já que pouco material havia sido produzido sobre uma das maiores vozes da atualidade. Depois de muito trabalho e paciência, o livro finalmente viu a luz do dia e a espera valeu a pena. A obra chegou ao Brasil em 2021, pelas mãos da editora Estética Torta, em uma luxuosa edição e com tradução de Marcelo Vieira.


          O livro de Reiff relata a trajetória de Chris Cornell desde o seu primeiro contato com a música, quando resgatou uma coleção de vinis dos Beatles que estava mofando no porão do vizinho, até seu derradeiro momento, o último show com o Soundgarden, quando recitou versos de "In My Time of Dying", do Led Zeppelin, pouco antes de deixar o palco pela última vez. A infância turbulenta, marcada pela convivência com o pai alcoólatra e por uma rigorosa educação católica, as primeiras aventuras musicais, com o piano de segunda mão dado pela mãe, depois com a guitarra do irmão mais velho e, finalmente, com a bateria, onde ele primeiro se encontrou, tudo isso é esquadrinhado. Mas a maior parte do livro é dedicada, claro, à ascensão com o Soundgarden, a banda que, com seus riffs pesados, letras sombrias, marcações de tempo incomuns e que não tinha medo de ousar, emergiu da cena underground de Seattle para o topo do mundo. Bastidores de turnês e gravações, inspirações por trás das canções, as trocas de integrantes, os perrengues e, claro, a evolução de Chris como músico, das baquetas ao posto de um dos maiores frontmans de sua época, está tudo aqui!


          Dono de uma das mais potentes vozes e presenças de palco que o mundo já viu, mas extremamente reservado fora dele, Chris nunca assumiu para si o status de rockstar, parecia saber muito bem como separar a sua vida pública e privada, mas nem por isso o livro de Reiff deixa de entrar em alguns detalhes de sua vida pessoal. Matrimônio e paternidade são alguns dos assuntos que surgem ao longo da leitura e seu lado mais sombrio não fica de fora: suas angústias e tristezas, o vício em álcool e outras substâncias, a forma como lidou com a morte dos amigos de cena (Andrew Wood, Kurt Cobain e Layne Staley) e todas as vezes em que esteve no fundo do poço, esses são alguns dos episódios tratados aqui. Mas o livro também traz relatos mais tocantes, como a amizade com o Pearl Jam, com os Ramones e com o vocalista do Linkin Park, Chester Bennington. A obra prossegue com a dissolução do Soundgarden, a formação do supergrupo Audioslave, a decolagem da carreira solo, o retorno do Soundgarden e, por fim, sua morte.


          Ainda hoje parece que a ficha não caiu. Em 2017, a notícia de sua morte caiu sobre mim e foi um baque, e relê-la agora, cinco anos depois, foi estranho, como se estivesse acontecendo de novo. Fiquei mal com o final. É algo que ainda não consigo assimilar muito bem, pois sempre tive uma relação íntima com seus discos e já perdi a conta de quantas vezes suas letras foram o meu conforto. Chris pode não estar mais por aqui, mas seu legado permanece e acredito até que possa salvar pessoas. Fico feliz em saber que sua trajetória agora está registrada da forma como merece. Mais do que preencher uma lacuna, o livro de Reiff traz um alento para o coração dos fãs e dos amantes de boa música.


"Ninguém mais canta como você..."

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