RESENHA: A Fazenda Africana - Karen Blixen


          Karen Blixen foi uma escritora dinamarquesa, nascida em Rungsted, no ano de 1885. Teve sua infância marcada pelo suicídio do pai, quando tinha apenas dez anos. Estudou artes na Academia de Copenhague e começou a publicar seus primeiros contos em 1907. Na década seguinte, mudou-se para o Quênia com o marido, o barão Bror von Blixen-Finecke, e iniciou uma plantação de café. Após uma série de problemas no casamento, de saúde e financeiros, se viu forçada a abandonar suas terras e retornar à Dinamarca, passando então a se dedicar à escrita. Algumas de suas obras foram premiadas e adaptadas, sendo a mais famosa delas "A Fazenda Africana". Faleceu em 1955, já com a saúde bem deteriorada, na propriedade de sua família.


          Publicado originalmente em 1937, "A Fazenda Africana" é um livro de memórias que relata o período em que a autora passou no Quênia, entre os anos 1914 e 1931. Dividida em cinco partes, a obra nos permite uma profunda imersão no continente africano, com vívidas descrições de paisagens deslumbrantes, da vida selvagem e dos costumes e crenças de tribos nativas. Mas o mais interessante de se observar nessa leitura é o choque cultural que se dá entre Blixen e os nativos e a curiosa relação que se desenvolve entre ambos: de um lado, uma europeia criada no seio das mais conservadoras tradições familiares, de outro, um povo que carrega o estigma de selvagem mas que muitas das vezes se mostra mais humano que a mais avançada civilização.


          Apesar de não ser uma obra de cunho antropológico, o livro de Blixen não deixa de ser um convite à reflexão sobre as relações raciais e o chamado eurocentrismo. De fácil leitura, a obra também não é desprovida de emoções. Além de ter o poder de nos transportar para outras paragens, Blixen nos presenteia com relatos tocantes, como a relação que desenvolve com uma criança nativa e o vínculo criado com um filhote de gazela que visita a fazenda. Mas nem tudo é uma maravilha. Vale lembrar que estamos falando de uma época em que a África era vista como um "parque de diversões" para o resto do mundo. Violência, exploração e devastação da flora, fauna e da cultura nativa, tudo isso está presente aqui. As passagens sobre as caçadas e a forma como a autora se refere aos trabalhadores da fazenda em alguns momentos podem incomodar, mas ao mesmo tempo são elementos que compõem e documentam o contexto histórico eurocentrista em que a obra foi escrita.


          "A Fazenda Africana" foi uma leitura bem fora da caixinha pra mim e que me surpreendeu bastante. Sempre conservei um ar de curiosidade sobre o continente africano e nesse ponto a leitura foi um verdadeiro deleite. Ao mesmo tempo, me dei conta do quão pouco, ou quase nada, conheço da literatura africana, e já estou providenciando algumas obras do continente para encaixar em minhas futuras leituras.

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