RESENHA: Homens Sem Mulheres - Haruki Murakami


          Um dos principais nomes da literatura japonesa contemporânea, Haruki Murakami nasceu em Kyoto, em 1949. Se formou em dramaturgia clássica na Universidade de Waseda e morou por alguns anos nos EUA. Traduziu para o japonês obras de autores como J. D. Salinger, F. Scott Fitzgerald e John Irving. Publicou romances de sucesso, entre eles "A Crônica do Pássaro de Corda" (1994), "Kafka à Beira-mar" (2002) e a trilogia "1Q84" (2009). Sua obra, marcada por temas como surrealismo e fatalismo, já foi traduzida para mais de quarenta idiomas e lhe rendeu diversos prêmios, como o Yomiuri (1995) e o Franz Kafka (2006).

          Publicado originalmente em 2014, "Homens Sem Mulheres" reúne sete contos que têm como tema central o fim das relações amorosas e a solidão que as segue. Logo, esse é um livro extremamente melancólico, às vezes trágico. A obra ganhou novo fôlego após a adaptação do conto "Drive My Car" levar para casa o prêmio de Melhor Filme Internacional, no Oscar de 2022. No conto em questão, um ator de teatro está em busca de um motorista particular e se surpreende ao encontrar uma mulher para o cargo. É uma história que envolve luto, traição e o absurdo da vida em geral.


          "Yesterday" relata a trajetória de três jovens prestes a entrarem na vida adulta e trata de amadurecimento e escolhas. O conto tem o poder de nos mergulhar em um estado reflexivo. "Órgão Independente" é sem dúvida uma das coisas mais tristes que já li e, consequentemente, se tornou o meu favorito do livro. Nele, um cirurgião plástico de meia idade se envolve com uma mulher mais nova e o desfecho não é nada agradável. Em "Sherazade", o primeiro amor acaba ecoando em uma relação pra lá de estranha. Confesso que esse conto ficou meio "no ar" pra mim. Na sequência temos "Kino", onde  aprendemos a importância de aceitar as adversidades da vida e lidar com nossos sentimentos. Jazz, uísque, gatos e uma pontinha de realismo mágico não irão faltar. "Samsa Apaixonado" nos apresenta uma espécie de releitura da obra máxima de Kafka. Por fim, temos o conto que dá título ao livro e sintetiza o que é ser um "homem sem mulher".

          São histórias tristes, repletas de personagens solitários e peculiares que atravessam momentos de dor e sofrimento, mas também de autoconhecimento e ressignificados. Como o próprio título sugere, a narrativa dos contos se dá sempre sob a perspectiva masculina, o que pode incomodar alguns leitores. Embora seja difícil dizer se algumas das passagens mais machistas vêm disso ou da própria cultura japonesa. Mas isso também não tira o brilho da obra, umas vez que os temas tratados aqui são universais e, bem ou mal, fazem parte do ser humano. Ainda prefiro o Murakami romancista, mas é inegável o poder que ele tem de nos botar pra pensar mesmo em histórias tão curtas. Você pode tanto amar quanto odiar esse livro, é o tipo de leitura que conversa muito com a bagagem emocional de cada um. Acredito que cada leitor irá sentir e pensar coisas bem diferentes ao longo dessa leitura.

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