Andrés Neuman é um escritor argentino, nascido em 1977, na cidade de Buenos Aires. Ainda jovem mudou-se para a Espanha, onde lecionou Literatura Hispano-Americana na Universidade de Granada, mas acabou abandonando o cargo para se dedicar inteiramente à escrita. "O Viajante do Século", sua primeira obra publicada no Brasil, recebeu em 2009 o Prêmio Alfaguara e o Prêmio da Crítica, na Espanha, sendo também muito celebrada pelos jornais El País e El Mundo. O autor é tido como um dos principais nomes da literatura de língua espanhola da atualidade, até mesmo o mestre Roberto Bolaño se rendeu a ele ao dizer que "a literatura do século XXI estará nas mãos de Andrés Neuman e de muito poucos dos seus irmãos de sangue."
Para conceber o romance, Neuman se dedicou a um árduo trabalho de pesquisa que levou seis anos e abarcou temas como a era pós-napoleônica, a Revolução Industrial e as raízes do feminismo. Tamanha magnitude da obra exigiu tanto de seu tempo que o autor se viu obrigado a escolher entre o romance e o trabalho na Universidade. Ambientado na Alemanha do século XIX, "O Viajante de Século" narra a jornada de Hans, um misterioso viajante que chega a enigmática cidadezinha de Wandernburgo, um lugar labiríntico onde ruas e casas parecem mudar constantemente de lugar e que guarda habitantes um tanto quanto peculiares, como o realejeiro que toca na Praça do Mercado e a família Zeit, que administra a pousada onde Hans se hospeda. De passagem, o jovem viajante pretende apenas pernoitar por ali e seguir adiante em sua jornada, mas, intrigado, logo se descobre incapaz de deixar pra trás a cidade e seus mistérios. Entre o ir o ficar, o despertar de uma ardente paixão chega para desequilibrar a balança. Hans então descobre que aqueles que chegam a Wandernburgo não podem simplesmente deixá-la.
Esse é aquele tipo de livro que quanto menos você souber sobre a história, melhor. Assim como o protagonista, o leitor é um forasteiro que aos poucos vai sendo tragado pela leitura e desvendando os segredos de Wandernburgo. E esse se deixar envolver é o mais gostoso aqui. Sob uma perspectiva do século XXI, Neuman lança um olhar crítico para o século XIX e discute temas como política, religião, amor e arte. Com personagens cativantes, o autor constrói um intrincado microcosmo que encarna muito das inquietações da alma humana e dos conflitos que assolaram a Europa. A jovem e bela Sophie, por exemplo, traz muito das raízes do feminismo. Rebelde, se impõe contra as rígidas regras morais impostas ao sexo feminino e nos salões está sempre questionando o papel da mulher na arte e na sociedade. Vanguardista e apaixonante, é sem dúvida uma das personagens femininas mais fortes e marcantes que já li.
Mas, afinal, de que fala o livro de Neuman? Difícil dizer. Esse é um daqueles romances monumentais que abarcam contexto histórico, dramas familiares, paixões arrebatadoras e a investigação das profundezas da alma humana. Kafka, Tolstói, Hugo, Dostoiévski... Tem um pouquinho de cada entre essas páginas. Uma obra completa que me deixou com uma sensação que não sentia faz tempo: saudade do livro. Chegando nas últimas páginas, descobri que não queria me despedir de Wandernburgo e de seus personagens. Quando penso no livro, sinto falta das conversas em volta da fogueira, dos debates sobre literatura nos salões e da música do realejeiro. "O Viajante de Século" é sem dúvida uma das melhores coisas que li nos últimos tempos, sendo até difícil colocar tudo em palavras. A escrita de Neuman é altamente imersiva e o livro repleto de enigmas e gostoso de ser lido. Com certeza farei uma releitura dessa obra futuramente, pois mal deixei Wandernburgo e já sinto vontade de retornar.
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