RESENHA: A Obsolescência Programada dos Nossos Sentimentos - Zidrou & Aimée de Jongh


          Benoit Drousie, mais conhecido como Zidrou, é um roteirista belga, nascido em 1962, em Bruxelas. Iniciou sua carreira nos anos 90, quando em parceria com o ilustrador Godi assinou uma série de obras infanto-juvenis. Desde então se aventurou pelos mais diversos gêneros e firmou parcerias de sucesso que resultaram em trabalhos memoráveis, como "Lydie", "Verões Felizes" e "Naturezas Mortas". Para conceber "A Obsolescência Programada dos Nossos Sentimentos" a parceria da vez foi com a ilustradora holandesa Aimée de Jongh, best-seller na França e nos EUA. Um dos mais aclamados quadrinhos europeus da atualidade, a obra chega ao Brasil pelas mãos da editora Pipoca & Nanquim e conta com tradução de Fernando Paz e acabamento de luxo que traz capa dura fosca e papel couché de alta gramatura.

          Com uma narrativa embebida de sensibilidade, o quadrinho nos apresenta Ulisses e Mediterrânea. Ele, um viúvo que não sabe como preencher seus dias após uma aposentadoria forçada. Ela, uma ex-modelo que, diante da morte da mãe, descobre que o tempo passou e sente pela primeira vez o peso das rugas. Sem maiores perspectivas, os dois passam os dias envoltos em um estado de melancolia e solidão, mergulhados em lembranças e tentando encontrar seu lugar no mundo. E é justamente no lugar mais improvável que seus caminhos se cruzam e tem início muito mais que uma história de amor, mas também de redescobertas.

          Ok, a premissa pode até parecer meio clichê, mas o roteiro de Zidrou e o traço delicado de Aimée dotam a obra de uma sensibilidade ímpar. Não tem como passar batido, a comoção é certa! Logo nas primeiras páginas o leitor é completamente fisgado pela trama. O tempo passa para todos e, não importa a sua idade, em algum ponto você irá se identificar com esses personagens. Vivemos em uma sociedade onde sofremos constante pressão para permanecermos sempre jovens e cumprirmos as expectativas conforme a vida avança, travando assim uma batalha incansável contra o tempo. Envelhecer é visto como um sinal de fraqueza e a meia-idade, cercada de estereótipos, é o terror de muitas pessoas. Muito atual, a obra de Zidrou traz uma importante reflexão sobre o tema da passagem do tempo e do envelhecimento em sociedade, transmitindo de um jeito novo a clássica, porém nunca ultrapassada, mensagem: nunca é tarde para recomeçar.









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