RESENHA: O Complexo de Portnoy - Philip Roth


          Nascido em Newark, Nova Jersey, em 1933, Philip Roth foi um romancista norte-americano, considerado por muitos o maior desde William Faulkner. De origem judaica, cresceu no bairro judeu de Weequahic, cenário constantemente revisitado em suas obras. Iniciou sua carreira no fim da década de 50, escrevendo contos e novelas, mas foi com o seu quarto romance, "O Complexo do Portnoy", que alcançou o estrelato. Sucesso de crítica e venda, a obra o consolidou como um dos maiores romancistas de seu tempo, legado este que só veio a se fortalecer com a publicação de "Pastoral Americana", "A Marca Humana", "Complô Contra a América" e muitos outros clássicos que investigam e documentam a história da sociedade americana dos séculos XX e XXI. Falecido em 2018, aos 85 anos, Roth teve seu trabalho amplamente reconhecido ainda em vida. Sua lista de premiações e honrarias é extensa, entre elas vale destacar o Pulitzer e o Man Booker International.

          Publicado originalmente em 1969, "O Complexo de Portnoy" retrata o drama de Alexander Portnoy, um bem-sucedido advogado judeu que vive em Nova York e é também uma espécie de masturbador crônico e pervertido sexual, acometido pela mais completa incapacidade de amar. Para espantar seus demônios, Portnoy desabafa no divã de seu psicanalista. E assim se dá a narrativa desse irônico e peculiar romance. Revisitando episódios de sua infância e adolescência, marcados pela tenebrosa figura da mãe judia controladora, Portnoy relata as mais absurdas situações envolvendo principalmente o sexo e o que era ser um judeu nos EUA pós Segunda Guerra.


          O cerne da obra é a questão religiosa e a privação dos instintos humanos. As intrigas familiares, as censuras impostas pela religião e a repreensão de seus desejos fazem com que Portnoy desenvolva uma complexa personalidade, carregada de culpa e traumas que o levam a mergulhar em relacionamentos vazios. Inspirado em experiências autobiográficas, Roth cria um personagem intrigante, grotesco e ao mesmo tempo extremamente humano, e através dele analisa o homem em seu meio social, psicológico e religioso. De rápida leitura, "O Complexo de Portnoy" é um romance ácido e impactante que a princípio pode causar certo desconforto, pois vai tratar de um lado sombrio e desagradável do ser humano, mas que finalizada a leitura irá mergulhar o leitor em um estado de reflexão.

          Como ressalva, vale destacar que essa é uma obra recheada de humor negro e acusada por muitos de ser pornográfica. Logo, não é uma leitura que irá agradar a todos e acredito até que possa soar ofensiva para alguns. Sem papas na língua, Roth não priva o leitor de termos chulos, insultos gratuitos aos mais variados grupos e bizarrices sexuais. Talvez faça mais sentido se olharmos para o contexto da época, no qual a sociedade norte-americana via muitos tabus caírem por terra. Também é necessário lembrar que o livro é narrado em primeira pessoa por um personagem com claros problemas psicológicos. É bom ter isso em mente antes de encarar a leitura.

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