RESENHA: Tempo Estranho - Joe Hill


          Nascido no Maine, em 1972, Joe Hill é um escritor de terror e fantasia sombria. Filho de Tabitha e Stephen King, publicou seu primeiro romance, "Estrada da Noite", em 2007. Escreveu também "Nosferatu" e "Mestre da Chamas", algumas coletâneas de contos e criou, ao lado de Gabriel Rodriguez, a série de quadrinhos "Locke & Key". Apesar do pouco tempo de carreira, já ganhou prêmios importantes como o Bram Stoker, o British Fantasy e o cobiçado Eisner.

          Publicado originalmente em 2018, "Tempo Estranho" reúne quatro narrativas curtas escritas entre os anos de 2013 e 2016. São histórias que caminham entre o sobrenatural e o que há de pior no ser humano, temperadas com elementos de drama, scifi, fantasia e suspense psicológico. Em "Instantâneo", o que aparenta ser um caso de alzheimer acaba se revelando algo muito mais sombrio. "Carregado" é um thriller que nos coloca em meio ao caos de um tiroteio em massa e reacende o debate sobre o racismo e o porte de armas. Um malsucedido salto de paraquedas acaba forçando um jovem a lidar com seus problemas internos em "Nas alturas". Por fim, "Chuva" fecha o volume trazendo uma história de viés apocalíptico.



          São boas premissas, mas Hill peca um pouco no desenvolvimento. O livro até começa bem, mas vai caindo em qualidade, conto a conto. Percebe-se um claro problema de ritmo quando o autor soa repetitivo em alguns pontos e, em outros, acelera brutalmente a narrativa, indo de zero a cem em poucas linhas e entregando um desfecho apressado que poderia ser melhor trabalhado. Isso fica evidente em "Chuva". As duas primeiras histórias funcionam melhor e conseguiram me prender. Já "Nas alturas", apesar de ter alguns deslizes, me deixou bastante reflexivo. Como ponto positivo, esse é um livro que traz bastante representatividade. Tendo como protagonistas mulheres, negros, gays, nerds etc, a obra levanta debate sobre questões políticas e sociais de suma importância. E esses elementos não estão apenas jogados ali, a trama realmente gira em torno deles.

          A impressão que fica é que não temos o autor em sua melhor forma aqui. Os contos foram escritos enquanto Hill concentrava suas energias em "Mestre das Chamas", um extenso romance, e claramente não receberam a atenção que mereciam para atingir todo seu potencial. Logo, essa não é uma leitura que eu recomendaria para leitores de primeira viagem. Até mesmo "Nosferatu", escrito anteriormente, é mais bem trabalhado. Apesar de ter seus bons momentos, "Tempo Estranho" soa como um livro b-side composto de sobras dos experimentos que um inexperiente Hill acabou deixando em sua gaveta. Cabe ainda uma ressalva sobre a edição da HarperCollins: infelizmente o livro está recheado de erros de português! Um baita tiro no pé para uma edição tão caprichada, esteticamente dizendo.


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