RESENHA: O Último Dia de Um Condenado - Victor Hugo


          Romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta e ativista pelos direitos humanos, Victor Hugo nasceu em 1802, na comuna francesa de Bensançon. Em 1822, integrou-se ao romancismo e tornou-se um porta-voz do movimento. Opositor de Napoleão III,  teve que conviver com a censura e o exílio. Após a queda do Império, em 1870, retornou a França, onde foi ovacionado e retomou sua carreira política. Defensor da democracia liberal e humanitária, se recusava a fechar os olhos para as injustiças sociais que o cercavam e se manteve politicamente ativo até o fim de seus dias. Em sua derradeira hora, deixou sua herança para os mais necessitados e recusou honrarias, sendo levado ao cemitério pelo carro mortuário dos indigentes, como era sua vontade.

          Ao lado de nomes como Voltaire, Lamartine e Camus, Hugo era um fervoroso abolicionista da pena de morte. Publicado originalmente em 1829, "O Último Dia de um Condenado" é uma carta aberta contra esse tipo de sentença e narra, em forma de diário, os tormentos de um miserável que aguarda pela sua hora fatal no corredor da morte. Não sabemos o seu nome, nem o crime que cometeu (embora tenhamos algumas pistas), mas isso não faz com que o leitor se comova menos com sua situação. Em seus derradeiros momentos, nosso condenado se volta à escrita, o que nos permite acompanhar de perto suas agonias e o medo em face da morte. É uma narrativa extremamente claustrofóbica e desesperadora, do tipo que sentimos certo alívio ao fechar o livro. Por outro lado, não conseguimos simplesmente largar a leitura, queremos chegar logo ao seu nefasto desfecho e perscrutar a escuridão.

          Hugo consegue nos colocar na pele do condenado e dividimos com ele todas as suas fases de negação, raiva, barganha, depressão e, finalmente, aceitação diante da morte. Mas a obra não só adentra as profundezas da alma e da psicologia humana, como também traz muitas críticas a sociedade e justiça francesas do século XIX. O autor aponta várias denúncias contra o sistema carcerário, os mecanismos da justiça e a sede de sangue do povo que se reunia em praça pública para assistir as execuções. Este é um livro fundamental para entender Victor Hugo e talvez o ideal para quem quer começar a lê-lo, mas não quer encarar um calhamaço logo de cara. Com menos de cem páginas, a leitura é rápida, porém densa em conteúdo, sendo possível extrair muito dela. Um livro ativista, político e humanista. E que é, pra mim, ao lado de "A Morte de Ivan Ilitch", uma daquelas leituras fundamentais e definitivas sobre o tema morte.

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