RESENHA: Purgatório - Christophe Chabouté


          Um dos mais aclamados artistas europeus contemporâneos, Christophe Chabouté é um quadrinista francês nascido na Alsácia, em 1967. Publicou seu primeiro trabalho em 1993 e já adaptou autores como Jack London e Herman Melville. Também concebeu obras irretocáveis, entre elas: "Solitário" e "Um Pedaço de Madeira e Aço". Mestre do preto e branco, possui um traço muito característico, carregado de sensibilidade, e um talento ímpar na arte de narrar sem recorrer a textos. No Brasil, sua obra vem sendo publicada em luxuosas edições pela editora Pipoca & Nanquim e a charmosa biblioteca Chabouté acaba de ganhar o seu sexto volume: "Purgatório".

          Publicada originalmente em três volumes, entre os anos de 2003 e 2005, a graphic novel narra o drama de Benjamin Tartouche. Aos 27 anos, nosso protagonista está tentando tomar as rédeas da própria vida, quando é acometido por uma série de infortúnios. Privado de seus bens materiais e até mesmo sua dignidade, se torna um homem no fundo do poço. Mas nada é tão ruim que não possa piorar! Quando parte dessa para uma melhor... bem, não é exatamente para "uma melhor" que nosso protagonista vai. No purgatório, sua alma recebe uma árdua missão e retorna ao mundo dos vivos, como espectro, para cumpri-la.

          Coisa rara, Chabouté usa cores aqui, mas também não abre mão do preto e branco, fazendo dele um criativo recurso narrativo. Com pitadas de humor e melancolia, a obra retrata os sentimentos humanos com a maestria que só ao autor cabe: solidão, medo, ira, amor, redenção e hipocrisia... Tem até um fundo político que aborda temas mais atuais como fake news, por exemplo. Em diversos pontos da narrativa se torna impossível não se colocar no lugar do protagonista, que é acometido pelo sentimento de não ter vivido sua vida como deveria e, agora que está morto, sente uma nostalgia por momentos não vivenciados.

          É o melhor Chabouté? Não, pra mim! "Solitário" ainda é, de longe, o meu favorito. Acho que "Moby Dick" e "Um Pedaço de Madeira e Aço" também estão acima. Mas, é uma leitura válida? Muito! Simplesmente por ser uma experiência de leitura única. As soluções narrativas que Chabouté encontra, o jogo de cores com o preto e branco... Difícil colocar em palavras, mas quem ler vai sentir que está diante de uma narrativa diferenciada e vai entender o que digo. E para os fãs de Chabouté, vale conhecer o trabalho mais antigo do autor publicado até agora pelo PN.











Comentários