RESENHA: Solidão & Companhia - Silvana Paternostro


          Em 2001, a revista Talk contratou a jornalista colombiana Silvana Paternostro para escrever a história oral de Gabriel García Márquez. A ideia era coletar entrevistas de pessoas comuns que conviveram com o lendário escritor em algum momento de sua vida. Algo curto, de poucas páginas, nada muito pretencioso. Mas, com o fechamento da revista, o texto acabou nunca sendo publicado e o material foi então engavetado. Quase uma década depois, surgiu a ideia de transformar o projeto em livro. Paternostro partiu então para uma segunda rodada de entrevistas e o resultado foi "Solidão & Companhia", a história oral de um dos maiores escritores que o século XX viu, contada por irmãos, amigos e conhecidos.

          Existe muito material publicado sobre Gabo, biografias e até suas próprias memórias, mas o que temos aqui traz um tempero diferente. A sensação que o livro transmite é a de que estamos diante do entrevistado, ouvindo causos e tomando um bom café. Aliás, nem dá pra chamar de entrevista. A simplicidade, o tom casual e os trejeitos do povo colombiano de contar suas histórias faz dessa uma leitura gostosa e extremamente fluida. O livro é dividido em duas partes: antes de Cem Anos e depois de Cem Anos; e nos permite acompanhar, através dos olhos daqueles que estavam por perto, a meteórica ascensão de Gabo, da infância em Aracataca aos seus últimos dias na Cidade do México, passando por episódios como o período em que atuou como jornalista, o círculo de amizades de La Cueva, seus amores, o Nobel de Literatura, a polêmica amizade com Fidel Castro e o fatídico dia em que o escritor foi socado no olho por Mario Vargas Llosa.

          Esta é uma leitura que tanto serve como porta de entrada para aqueles que ainda não conhecem a obra de Gabo (o livro com certeza irá aguçar sua curiosidade), quanto se revela um verdadeiro deleite para os mais familiarizados, oferecendo um rico background de suas inspirações e uma amostra de seu processo de escrita. Até mesmo personagens de "Cem Anos de Solidão" saltam de suas páginas. A menina que comia terra? Realmente existiu! A história da moça que desaparece entre lençóis? Tem o seu fundo de verdade! Ao longo da leitura, vamos perceber o quanto Gabo nunca deixou o jornalismo de lado, sempre se inspirando em fatos e pessoas de seu convívio para fazer a mágica acontecer. Tudo isso faz de "Solidão & Companhia" uma história inspiradora e sublime, contada em forma de papo de boteco.



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