RESENHA: A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy - Laurence Sterne


          Nascido em 1713, na Irlanda, Laurence Sterne foi um escritor e pastor anglicano. Iniciou sua carreira literária em 1759, com a publicação do panfleto "A Political Romance". Neste mesmo ano começou a redigir aquela que viria a se tornar sua maior obra, responsável por alçá-lo ao status de celebridade na capital inglesa e por gravar o seu nome entre os principais escritores do século XVIII. Publicada em nove volumes entre os anos de 1760 e 1767, "A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy" é uma paródia que subverte totalmente os conceitos do romance. A obra é tida como precursora do fluxo de consciência e, usando de ferramentas como humor chulo, capítulos em branco,  pontuação inadequada, prefácio no meio do livro e infinitas digressões, brinca com as formas do romance convencional. Os ecos de sua influência podem ser sentidos em autores que vão desde James Joyce ao nosso saudoso Machado de Assis, passando por Virginia Woolf, Samuel Beckett e outros grandes nomes.

          A obra, como era de se esperar, causou rebuliço no meio literário, mas acabou, com seu humor peculiar, caindo nas graças da sociedade inglesa. Comparado a "Dom Quixote", o livro nada mais é que a autobiografia de um cavalheiro que, sempre disposto a esticar a conversa e com certa aversão a linha reta, é acometido pela mais extrema incapacidade de se chegar aonde se quer. Como resultado, temos uma narrativa repleta de parênteses, hesitações, desvios de assunto, e claro, muito bom humor. Shandy começa a contar sua história antes mesmo de seu nascimento, tendo como protagonistas duas figuras pra lá de engraçadas: seu excêntrico pai, dado a superstições e teorias absurdas, e seu tio Toby, um ex-militar que parece ter ficado com um parafuso a menos após ser ferido em batalha. Quando essa dupla entra em cena, é gargalhada na certa. Os diálogos são impagáveis!

          Mas nem tudo é risada. Um dos objetivos do livro é irritar o leitor, e sim, ele consegue! As intermináveis digressões, os capítulos inteiros dedicados, por exemplo, a narizes ou a casas de botão, a narrativa labiríntica que causa vertigem... Acredite, em alguns momentos você irá sentir vontade de tacar o livro na parede! O início, pincipalmente, é bem confuso. Leva um tempo para se acostumar com a escrita e para entender que o autor só está tirando uma com a sua cara, e o faz com maestria. Quando estamos diante de um clássico, é natural que nos preparemos para uma leitura mais séria, certo? Esqueça isso! O conselho que dou é o seguinte: relaxe e não leve o livro tão a sério, encare como sentar para assistir a uma comédia antiga no melhor estilo pastelão.

Comentários